Menino lendo, ilustração Avelino Guedes.
Há uma semana mais ou menos, o Ministério da Educação deu mostras de tentar valorizar a leitura no ensino médio, depois das grandes mudanças propostas que deverão ser implementadas ainda neste governo. Para manter a boa vontade e não duvidar da seriedade do programa eu gostaria de poder evitar dizer que os especialistas do Ministério da Educação parecem estar anunciando que descobriram a pólvora quando se pronunciam como a Sra. Maria Eveline Villar Queiroz, coordenadora geral do ensino médio no ministério, desta maneira: “A leitura dá autonomia no aprendizado, na escola, na universidade e no mundo do trabalho”. Mas, é verdade. Sinto um cheirinho de pólvora no ar. Todos nós que conhecemos o valor da educação, já havíamos cansado de anunciar esta solução. No entanto o óbvio volta a ser desfraldado como uma nova descoberta… Mas, vou deixar a crítica de lado, cruzar os meus dedos, bater na madeira, e mandar vibrações positivas para que, de fato, este programa seja levado a sério. De acordo com Maria Eveline, colocar a leitura no centro do currículo tem o objetivo de preparar o cidadão para a vida.
Infelizmente, acho que estamos esperando mais do que poderá ser feito. Há um toque de grandiosidade, uma nesguinha megalomaníaca governamental. Porque o programa não vem sozinho. Ele será também responsável por solucionar outros problemas que afligem os nossos adolescentes: do abandono escolar à gravidez de adolescentes. E quando a gente começa a esperar muita coisa de uma solução facílima e óbvia, é porque todas as nossas idéias já se esgotaram e sabemos que há muito mais a ser corrigido do que o aparente. Em suma: temos um cobertor curto para muito frio.
O programa também quer oferecer uma escola mais atrativa para o aluno e, assim, reduzir os índices de abandono. Entre as inovações que o MEC sugere estão a ampliação da carga horária dos três anos do ensino médio para três mil horas (hoje são 2.400 horas); a leitura como elemento central e básico em todas as disciplinas; estudo da teoria aplicada à prática; fomento às atividades culturais; professor com dedicação exclusiva.
Nestor e Zé Carioca, ilustração Walt Disney.
Espero que todos envolvidos nesse trabalho tenham tido um curso de noções básicas de contabilidade para que saibam direitinho de onde estará vindo o dinheiro para tanto. Espero que tenham feito uma correção nos salários dos professores, pois são muito mal pagos e para exigir dedicação exclusiva o MEC terá que mudar a escala salarial de maneira substantiva. Mais professores serão necessários para uma nova carga horária de âmbito nacional, assim como os gastos extras com livros, merenda escolar e tudo o mais que estes programas irão necessitar. Longe de mim, torcer contra. Esse não é o caso. Mas recentemente um jornal local, mostrou fotos de escolas no interior de estados diversos, do nordeste ao norte, centro-oeste e outras regiões com escolas abandonadas e salas de aula cheias de goteiras por falta de verbas e de manutenção. Que esse não seja o futuro desse programa.
Tenho sempre um pé atrás com programas federais que surgem como soluções miraculosas dezoito meses antes das eleições para um novo governo. Quem acredita, como eu, que a educação é a única coisa que irá nos salvar de um futuro de servidão à China e à Índia, tem esperanças de que pelo menos AGORA o governo esteja sério. Mas esperanças são sopros vazios principalmente quando baseadas em promessas eleitorais, e tudo indica, no momento, que estamos num processo de sedução: a oferta de um futuro brilhante pelo menos até as próximas eleições.
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