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Um sarau musical, 1874
Guglielmo Zocchi (Itália, século XIX)
óleo sobre tela
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O bailarico das Novais
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Luiz Peixoto
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Um sarau
na rua Itapiru,
em casa das Novais.
O calor
está abrasador
e tem gente demais
mas, tome polca!
No sofá
a Dona Jacintinha
faz bolas de papel
e na janela
de papelotes,
a Berenice namorica o furriel.
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A reclamar silêncio
surge o seu Fulgêncio,
um rotundo e bom comendador.
Sim, porque nessa altura
chega o padre-cura
com o corregedor.
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— Senhorita,
a honra desta dança
acaso quer me dar?
— Cavalheiro,
a honra é toda minha,
porém, já tenho par…
e tome polca!
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Dança o Souza,
que vai pisando em ovos
com as botas de verniz,
enquantoa esposa,
de olhos em alvo,
fica torcendo os cabelinhos do nariz.
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Por trás de uma cortina
vê-se a Minervina
que é mais preta que um tição,
e diz entre risadas:
— Quebra Dona Alice!
— Quebra seu Beltrão!
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— Atenção! — acordes da “Dalila”,
seu Gil vai recitar!
Fazem roda
e o moço encalistrado
começa a gaguejar…
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Vem o chá
Biscoitos de polvilho
e outros triviais
— São onze horas, apague o gás!
E assim termina o bailarico das Novais.
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Em: Poesia Brasileira para a Infância, Cassiano Nunes e Mário da Silva Brito, São Paulo, Saraiva:1968; coleção Henriqueta.
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Luiz Carlos Peixoto de Castro, ( Niterói, RJ 2/2/1889 – RJ, RJ 14/11/ 1973). Foi poeta, letrista, cenógrafo, teatrólogo, diretor de teatro, pintor, caricaturista e escultor.
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