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Tapeçaria da Série A Dama e o Unicórnio, c. 1470-1475
Museu de Arte Medieval, França
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Tracy Chevalier me encantou há alguns anos com sua Moça com Brinco de Pérola, que li muito antes do filme ter chegado aos cinemas. Mais tarde li o romance Viva Chama, que apesar de interessante já não me pareceu tão evocativo de uma era. Por isso mesmo deixei passar um bom tempo para ler A dama e o unicórnio. Raramente a boa experiência de leitura de um autor se duplica na leitura seguinte se ainda estou sob o feitiço do primeiro encontro. E temi que este livro sobre as famosas tapeçarias francesas da proto-renascença pudesse me trazer descontentamento. Posso garantir no entanto que este é um livro charmoso, agradável e um testemunho da grande criatividade da autora que se revela muito hábil ao imaginar as situações que poderiam ter levado à produção das tapeçarias assim como as vidas dos artesãos que as teceram.
O encanto do livro Moça com brinco de pérola não se repetiu. Mas também não saí ao final dessa leitura desapontada: esta é uma narrativa leve, sensual, que tem o mérito de respeitar aquilo que se sabe hoje sobre as tapeçarias em questão. E ainda, este é um romance que traz aos olhos do século XXI, aos não historiadores, a quem não precisa refletir sobre as condições de vida e de trabalho no século XV, uma perspectiva de como seria a vida de então, com suas restrições, suas liberdades, as regras das guildas artesanais, o papel do monastério de freiras na vida de uma mulher. Porque sua pesquisa foi bem feita, Tracy Chavalier instrui ao mesmo tempo que assume o papel de uma Sherazade.
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Se por um lado a trama é tênue e previsível, por outro ela se salva pela acuidade na representação do trabalho artesão e de fatos históricos. Isso releva quaisquer faltas no comportamento quase licencioso retratado em alguns personagens femininos, comportamento inexato pelo que se sabe serem as normas vigentes na época. Não obstante, A dama e o unicórnio oferece um entretenimento leve e informativo.