Cabeça de jovem
Jeanne-Philiberte Ledoux (França, 1767 – 1840)
óleo sobre tela, 45 x 37 cm
Cabeça de jovem
Jeanne-Philiberte Ledoux (França, 1767 – 1840)
óleo sobre tela, 45 x 37 cm
A carta
Abbot Fuller Graves (EUA, 1859 – 1936)
Óleo sobre tela, 23 x 25 cm
Igreja de Vassouras, RJ, 1960
Ethel Lourdes de Oliveira (Brasil)
óleo sobre tela, 64 x 48 cm.
Mãe e filha lendo
Eduardo Feitosa (Brasil, 1957)
óleo sobre tela
Raimundo Correia
Repica o sino na matriz da vila,
Como um dia de gala…
São dez horas somente; o sol rutila,
Faísca o espelho de cristal na sala.
A pêndula palpita,
Compassada e monótona; singelo,
Numa gaiola, elétrico saltita
Um canário amarelo.
São dez horas; erguidas
As persianas deixam ver, distantes,
Das árvore floridas
As frondes verdejantes.
Sutil essência de magnólia e rosa
Repassa o ambiente,,, e a mãe a ler ensina,
Sorrindo carinhosa,
A loura filha, ingênua e pequenina.
Em: Poesia Brasileira para a Infância, Cassiano Nunes e Mário da Silva Brito, São Paulo, Saraiva: 1967, Coleção Henriqueta, p. 24.
Uma leitura silenciosa, 1915
Roderic O’Conor (Irlanda, 1860-1940)
óleo sobre tela
Monsaraz, 2001
Pedro Buisel (Portugal, contemporâneo)
óleo sobre tela, 53 x 80 cm
Confesso que comecei a leitura de Nenhum Olhar de José Luís Peixoto com certa apreensão. Eu havia gostado tanto, tanto, de seu Livro, que tinha medo de me decepcionar com qualquer outra obra do autor. Dei tempo entre os dois e caí de amores mais uma vez por este autor que surpreende com a habilidade de encantar com a utilização de palavras comuns, que eu, você, nós todos sabemos e aplicamos diariamente. Em sua escrita esses vocábulos comuns tornam-se elementos de uma narrativa lúdica e poética capaz de abordar delicadas e violentas emoções de modo único e sensível. Chega a ser difícil acreditar que temos em comum as mesmas palavras, no número finito das existentes na língua portuguesa, porque José Luís Peixoto não inventa novos vocábulos, mas consegue construir linguagem única, que entendemos pelas ausências, no avesso ou como se lêssemos pelo espelho. Frases curtas trazem à tona reticências eloquentes. Silêncios soturnos envolvem o leitor com um cordão mágico invisível que o amarra ao texto. E imergimos num mundo fantástico e real, plausível, mágico. Enigmático.
José Luís Peixoto canta uma aldeia. Cantar é a palavra que melhor descreve a prosa-poética, ou a poesia em prosa, da narrativa sobre esta aldeia portuguesa, que parece perdida no tempo, solitária no espaço, contida em si mesma, isolada na imensa extensão agreste, bruta, bravia e rústica do Alentejo. Sente-se o lugar. É hostil, habitantes abrutalhados, sem possibilidades de mudança. Vivem sob o pesado manto dos séculos de isolamento e conformismo. Nem todos são gente comum. Há um tanto de mágica local. Mas há falta de perspectiva, seus habitantes não veem o horizonte além. ‘Nenhum olhar’ atravessa a distância, supera a realidade desolada do lugar.
Gosto particularmente da capa desta edição da Dublinense de Samir Machado de Machado. Gosto porque desta janela do aposento de onde a foto foi tirada, não há horizonte visível. Há telhados. E céu. O olhar atravessa a janela e para. Para logo ali adiante. Ali pertinho. Ali, na casa ao lado, no vizinho vigilante, na vereda deserta, no silêncio impenetrável dos vigiados seguidos por trás das cortinas em seus mais corriqueiros movimentos. O olhar para ali, sem qualquer esperança, para no muro e nas telhas. Isso reflete a asfixia da aldeia. A falta de espaço tão bem representada pelos irmãos siameses; a exiguidade a despeito da imensidão algarvia que a rodeia. Esta aridez externa ecoa na população retratada, do gigante à mulher estuprada, do pastor de ovelhas à mulher cega. E como num deserto, onde ocasionalmente vemos uma planta esboçar um alento, aqui também há amor. Silencioso, profundo, dramático. Talvez esses excessos nos levem a aceitar com maior encantamento a virada de perspectivas que ocasionalmente nos obriga a parar e pensar. “Penso: talvez o céu seja um mar grande de água doce e talvez a gente não ande debaixo do céu mas em cima dele; talvez a gente veja as coisas ao contrário e a terra como um céu, e quando a gente morre, quando a gente morre, talvez a gente caia e se afunde no céu.” [123-24]
Os eventos que compõem a história dessa aldeia podem ser contados repetidamente, de maneira poética ou objetiva. E no entrar e sair do sonho, no abraçar ou abandonar o onírico, temos entendimento mais completo da agonizante e ferrenha determinação de seus habitantes pela sobrevivência física e emocional. Esdrúxulas como a própria paisagem que as gera, essas pessoas parecem habitar o mundo das alegorias. Seus nomes, vindos dos Novo e Velho testamento aparentam ser maiores do que os seres que os carregam e dão aos acontecimentos, junto com os personagens fantasiosos, um ar simbólico que em vão tentamos decifrar.
Essa é a história de uma aldeia. Belíssima narrativa ainda que extremamente triste. Recomendo.
NOTA: este blog não está associado a qualquer editora ou livraria, não recebe livros nem incentivos para a promoção de livros.
Floresta, déc. 1970.
José Claudino Nóbrega (Brasil, 1909 -1995).
acrílica sobre tela, 125 x 145 cm
Auto-retrato com neve, 1986
Angelo de Aquino (Brasil, 1945 – 2007)
liquitex sobre tela, 100 x 80 cm
Vaso de Flores, 1985
Guerino Grosso (Brasil, 1907 – 1988)
óleo sobre tela, 60 alt X 40 cm
Girl From Ipanema, 2000
Renato Meziat (Brasil, 1952)
acrílica sobre tela, 60 x 80 cm