Paisagens brasileiras…

10 03 2024

Paisagem com Flamboyant

Funchal Garcia (Brasil, 1899 – 1979)

óleo sobre tela, 38 x 46 cm

 

 

 

Natureza

A. Marx [Antonio Augusto Marx] (Brasil, 1919-2008)

óleo sobre tela, 63 x 71 cm

 

 

 

Marinha,1970

Colette Pujol (Brasil, 1913-1999)

óleo sobre tela, 43sx 64 cm





Arte popular, Arte Naif, Arte primitiva

6 01 2024

Natividade

J. Cruz  (Brasil, ? – ? Século XX?)

Talha em bloco de madeira nobre,  38 x 42 cm

 

 

Publiquei esta cena da Natividade, no dia 24 de dezembro de 2023, comemorando o Natal.  O que não disse naquele dia é da minha frustração com essas definições de arte popular, naïf (ingênua em francês, mas adotada mundialmente) e arte primitiva que se intercalam no Brasil. Não parece haver consenso de como identificá-las ou separá-las. 

O grande divisor de águas frequentemente é o treinamento oficial, ou seja se o artista é autodidata ou não; se fez um curso de arte numa escola de Belas Artes, ou se aprendeu com o professor do bairro. Isso é um exemplo.  A temática também faz alguma diferença.  Temas folclóricos, cores vivas, traços rústicos são o esperado.  Aliás, acho que no Brasil somos muito complacentes quanto a aceitação da chamada arte naïf ou popular.  Vejo trabalhos por demais rústicos apresentados em galerias de arte de algum prestígio.  Temos o hábito de querer levar em consideração a falta de oportunidades que alguns artistas tiveram.  Julgar de coração mole não é necessariamente uma boa coisa. Acontece porque  temos grande aversão às regras, a padrões.  Todo brasileiro quer ser bonzinho.  Mas esse critério cá das nossas bandas não é universal.  Conheço pintores chamados naïf, que são arquitetos, ou têm curso de design de interiores e que por isso mesmo foram treinados em algum tipo de representação espacial, representação de perspectiva, expostos de alguma forma às convenções da representação quer aquelas usadas tradicionalmente no mundo ocidental ou a perspectiva ambiental, como a usada nas xilogravuras policromadas japonesas.

A talha acima, de um escultor que não conheço, J. Cruz, foi a leilão como Arte Popular em abril de 2021, aqui no Rio de Janeiro.  [Arte Popular – J. Cruz – Talha em bloco de madeira nobre, representando presépio. Med.: 38 x 42 cm.] Por que chamaram de arte popular? Porque provavelmente não conhecem o artista e seu meio de expressão é comum entre brasileiros sem treino: escultura em madeira, não muito diferente das matrizes de xilogravuras tradicionalmente consideradas arte popular.  Quem acha que xilogravura é só arte popular, nunca viu os detalhes e a delicadeza das obras de Albrecht Dürer, pintor e gravurista da renascença alemã.    Verdade é que por desconhecermos o senhor J. Cruz, quem quer que ele seja ou tenha sido, sabemos, só de olhar para a obra que estava familiarizado a iconografia das obras da renascença italiana.  Como assim?  Vejam abaixo.

 

 

Painel da Natividade, c. 1310-1330

Lorenzo Maitani (Siena, 1255-1330)

Catedral de Orvieto, Itália

 

 

A arte religiosa dos séculos XIII e XIV obedecia aos rigores iconográficos da Igreja (Falo da Igreja cristã, nesta época não havia a diferença entre igreja católica e outras, era tudo Igreja, só havia uma). Ela ditava o que aparecia na cena retratada e porque (muito simbolismo). Assim sendo, as cenas  eram determinadas até certo ponto a priori, pela Igreja, a quase única patrona das artes e principal responsável pela sobrevivência de artistas.  A Igreja Romana do Ocidente foi abandonando a tradição dos ícones que permaneceram como padrão de representação na Igreja Romana do Oriente, hoje Igreja Ortodoxa. Essa ainda permanece com as representações religiosas como ícones. Nos países do Ocidente vemos através dos séculos da Baixa Idade Média, as primeiras tentativas de quebrar a rigidez dos ícones com cenas que se aproximavam da vida dos homens comuns.  Giotto é o grande nome, na renascença italiana, desta “humanização ” do conteúdo nas cenas retratadas, sem nunca, no entanto, se desviar dos quesitos estabelecidos pela Igreja.

Não havia Escola de Belas Artes para ensinar artistas a pintar, esculpir, fazer arte, até o século XVII.  Na França, por exemplo, começa em 1648. Artistas eram artesãos.  E como artesãos pertenciam a guildas, como todos os que trabalhavam com as mãos: pedreiros, carpinteiros, ferreiros, padeiros, boticários, barbeiros, ourives, fabricantes de velas, sapateiros e assim por diante.  A guilda era onde um artista aprendia sua arte, trabalhando sob o comando de outro artista, já conhecido, e por anos.  Não era ele que decidia se já podia trabalhar sozinho… havia regras… tantos anos cumpridos.  Começavam misturando tintas, depois passavam a preparar as telas, mais tarde podiam aprender a fazer o fundo, até chegarem ao ponto de poderem trabalhar sozinhos e eventualmente terem seus próprios ateliês reconhecidos pelas guildas onde poderiam formar, dar aulas, a novos artistas.

O nosso artista brasileiro do século XX, J. Cruz, cujo único outro trabalho que encontrei online é um crucifixo, evidentemente aprendeu a olhar para artistas do passado, aprendeu a ver a tradição iconográfica da cena da Natividade, como mostra bem a comparação que vemos entre seu trabalho e o de Lorenzo Maitani, nos relevos exteriores da fachada oeste da Catedral de Orvieto.  Maitani era arquiteto e escultor.  Foi o arquiteto desta catedral e responsável por grande número dos relevos em pedra, decorativos no exterior dessa igreja.

 

 

 J. Cruz fez uma excelente escolha ao combinar seu estilo bem brasileiro, bem moderno, com ecos de Vicente do Rego Monteiro, à iconografia usada no século XIV, para a representação da Natividade. Não estou com isso dizendo que ele se inspirou exatamente nesta representação.  Não sei.  Talvez em uma foto destes relevos ou até mesmo de outras representações da Natividade.  Mas assim que vi a talha brasileira, lembrei-me da Natividade de Maitani que faz parte de um grande ciclo de imagens religiosas decorando o exterior da catedral de Orvieto.

 

 

Fachada oeste da Catedral de Orvieto, Lorenzo Maitani, primeira metade do século XIV.
Fachada oeste da Catedral de Orvieto, Lorenzo Maitani, primeira metade do século XIV.  RESSALTE DA CENA DA NATIVIDADE

 

 

Em comum, temos o posicionamento dos elementos no espaço. Maria na cama, enrolada em cobertas levanta com a mão esquerda o dossel (mosquiteiro) que protege o menino Jesus em seu berço. O arco acima deles simboliza a construção onde a família se abrigou, que pode ser, manjedoura, gruta, casa abandonada… Durante a Idade Média a Natividade de Cristo foi ganhando detalhes que não existiam anteriormente.  O nascimento de Cristo foi descrito brevemente só em dois evangelhos, o de Matheus (2:1-12) e o de Lucas (2:1-20).  A menção de uma caverna aparece no Livro apócrifa de Tiago. Assume-se na história da arte que foi justamente a falta de descrição detalhada desse evento que faz com que ele cresça e ganhe até personagens como o boi e o burro, e até mesmo os três reis magos que nos relatos mais antigos eram simplesmente padres (religiosos).  Toda essa evolução aconteceu durante a Baixa Idade Média, ou seja, entre os séculos XI e XV.  Outros personagens que povoam a cena, além do burro e do boi no canto direito superior, temos José, sentado, no canto direito inferior, apoiando a cabeça na mão direita, dando sinais de cansaço.  No centro da representação as duas obras mostram também as ajudantes de Maria, mulheres, que prepararam a água para o parto.  Esse detalhe, das  parteiras, vem da tradição bizantina, da Igreja Romana do Oriente, que também é responsável pela representação de Maria na cama.  Esses detalhes bizantinos, indicam para quem estuda a história da arte que trata-se de uma representação com raízes na Idade Média, e no caso de Maitani, ajuda-nos a comprovar que ele foi formado pela escola de Siena, porque esta levou muito tempo para se libertar das influências bizantinas.  Maria em adoração a Jesus, em pé ou ajoelhada, na cena da Natividade, já é uma representação mais tardia, baseada na obra Meditações de Giovanni de Caulibus, [Pseudo-Bonaventura]…  e assim por diante, podemos ir aos poucos datando as diferentes representações da Natividade, de acordo com diferentes textos e épocas.

 

 

Anunciação, Natividade e Adoração dos Pastores, 1259-1261

Nicolas Pisano (1220-1284)

Painel, Relevo em mármore do púlpito do batistério de Pisa

Pisa

Púlpito do Batistério de Pisa, 1259-1261, Nicolas Pisano (1220-1284)

 

 

Nicolas Pisano também mostra algumas raízes da iconografia bizantina.  Maria está recostada numa cama, temos as parteiras ao centro da cena, e José aparece no canto esquerdo inferior, mais ou menos na mesma posição que ele tem na obra de Maitani (que é posterior a esta).  As outras diferenças podemos considerar que existem porque temos a combinação de três eventos em um único painel, que são a Anunciação a Maria pelo anjo Gabriel, a Natividade de Cristo e a Adoração dos Reis Magos. Uso esse exemplo, de uma obra muito mais conhecida pelo público em geral, para demonstrar a maneira como alguns motivos se perpetuaram e foram passados de geração em geração.

Voltando à nossa primeira questão, acho difícil classificar a obra de J. Cruz como primitiva, naïf ou popular.  Não tenho dúvidas de que ele estava consciente das tradições da representação da Natividade e familiarizado com obras italianas da proto-renascença.  Se ele as conheceu em pessoa ou por fotografias, não deixou de estudá-las.  Não há nada nesta obra que indique ser de alguém que não teve treino nem estudo algum.  Muito pelo contrário, chego a imaginar que haja uma conexão entre ele e Vicente do Rêgo Monteiro.  Talvez ele tenha sida aluno, artista do círculo de Rego Monteiro.  Não sei, mas é provavel que o nordeste do Brasil seja o ponto em comum entre eles. 

 NOTA:

Este texto faz parte de um trabalho em andamento, futura publicação com o título provisório:  Notas da história da arte através das salas de aula.

©Ladyce West, Rio de Janeiro, 2024

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Ladyce West é uma historiadora da arte.  Em sua vida acadêmica, antes de abrir uma galeria de arte e antiquário, dedicou-se ao estudo do surrealismo belga.  Seu livro: Humor, Wit and Irony in the Works of Belgian Surrealists, baseado em tese da Universidade de Maryland, está em processo de tradução para o português. 





Palavras para lembrar: Jules Renard

5 12 2023

O divã, 1905

Blaise Vlaho Bukovac (Croácia, 1855-1922)

óleo sobre tela

 

 

 
“Escrever é uma maneira de falar sem ser interrompido.”

 

Jules Renard (1864-1910)





Passeio de domingo: casa de campo, montanha ou costa?

12 11 2023

Meninos pescando em canto de praia na Região dos Lagos, RJ

Oswaldo Teixeira (Brasil, 1904-1975)

óleo sobre tela, 80 X 100 cm

 

 

 

 

No sítio da vovó

Clodoaldo Martins (Brasil, contemporâneo)

óleo sobre tela, 90 x 70 cm

 

 

Menino na mata,1900

Antônio Parreiras (Brasil, 1860-1937)

óleo sobre tela, 66 x 88 cm





Rio de Janeiro: entre mar e montanhas

29 09 2023

Vista da Pedra de Boa Viagem, 1968

Diógenes Sodré (Brasil, contemporâneo) 

óleo sobre tela, 33 x 41 cm





Hoje é dia de feira: frutas e legumes frescos!

27 09 2023

Garrafão com Mexericas, 1980

Colette Pujol (Brasil, 1913-1999)

Pastel seco sobre papel, 50 x 65 cm

Pinacoteca Municipal de Mauá, SP

Tangerinas

Auguste Petit (França-Brasil, 1844-1927)

óleo sobre tela, 37 x 48 cm





Curiosidade literária

21 09 2023

Autorretrato com bandagem, 1889

Vincent van Gogh (Holanda, 1863-1890)

óleo sobre tela, 60 x 50 cm

Courtauld Institute of Art, Londres

 

 

 

O escritor americano William Burroughs (1914-1997) amputou a falange de seu dedo mínimo da mão esquerda propositalmente.  Havia se apaixonado por Jack Anderson, homem que conhecera em 1939 e pensou em oferecer esta parte de si mesmo como prova de amor, depois que Anderson acabou com o relacionamento.  Em seguida, Burroughs mandou foto da falange amputada para Arnold Gingrich da revista Esquire para publicação.  Gingrich imediatamente respondeu com uma nota: “Meus cumprimentos pelo início de uma maravilhosa carreira, quando recebo o resto do cadáver?”  [“I greet you at the beginnings of a wonderful career, when do I get the corpse?”]. 

Esse incidente demonstrou para seus pais que a saúde emocional de Burroughs não estava bem. Eles então o internaram em uma instituição mental por meses. Dois anos depois, quando William Burroughs foi convocado para lutar na Segunda Guerra Mundial, seu pai apresentou documentação da automutilação, com o laudo psiquiátrico para as forças armadas que decidiram não o forçar ao serviço militar.  Mais tarde, a amputação serviu de tema para o conto O Dedo, que William Burroughs publicou.

 





Imagem de leitura: Newton Mesquita

19 09 2023

Praça Buenos Aires, cedinho, 1992

Newton Mesquita, (Brasil, 1949)

acrílica sobre tela, 150 x 200 cm





O escritor no museu: Diderot

18 09 2023

Denis Diderot, 1767
Louis Michel van Loo (França, 1707-1777)
óleo sobre tel, 81 x 65 cm
Louvre





Imagem de leitura: Evelyn Bartlett

28 08 2023

Isso é que é vida

Evelyn Bartlett (Inglaterra, contemporânea)

técnica mista