Resenha: “Amantes modernos” de Emma Straub

21 02 2018

Ike Tennessee Parker (Alemanha-EUA, 1906-2000) ost, 92 x 67 cmSem título

(Variação da obra, “Gótico Americano” (1930) de Grant Wood (EUA, 1891-1942)

IKE, (Alemanha/EUA, 1906-2000)

óleo sobre tela,  92 x 67 cm

Amantes modernos — Não se seduza pelo título, se há amor, está morno.  Certamente não há paixão. E há quase nada de moderno.  A trama é dedicada à crise de meia idade de três amigos: Elizabeth, Andrew e Zoe.  Na juventude, haviam sido quase bem sucedidos no grupo de rock, Kitty’s Mustache, cuja cantora principal, Lydia, mais tarde alcançou algum sucesso cantando solo, mas morreu jovem, de overdose.  Passada a juventude, cada qual toma seu caminho longe da música, mas eles se mantêm em contato, morando próximos uns dos outros.  Andrew e Elizabeth se casam e tem um filho Harry; Zoe casa com Jane, juntas abrem o restaurante Hyacinth, e têm uma filha, Ruby.  Andrew não precisa trabalhar, vem de família rica. Elizabeth, não querendo ser dependente, descobre sua verdadeira vocação e  abraça com ardor a corretagem de imóveis. Por isso somos frequentemente lembrados das vantagens do Brooklyn.  Emma Straub com a profissão de Elizabeth tem a  liberdade de descrever, idealizar e colocar no mapa não só o Brooklyn pós gentrificação, como dar a nova-iorquinos o tentador quebra-cabeças de localizar nas ruas descritas em Ditmas Park, o comércio e os pontos de interesse do local citados no livro; preocupações relevantes unicamente para os leitores familiarizados com a vida do burgo adjacente à Manhattan.

O ponto de conflito ostensivo da trama é gerado por uma produtora que procura permissão de Elizabeth e Andrew para usar a música de maior sucesso de Lydia, em um filme sobre a cantora. A música é de autoria de Elizabeth, que está pronta para permitir seu uso no filme, mas Andrew não acha uma boa ideia. Na mesma rua, mais adiante, onde moram Jane e  Zoe, tudo parece indicar que está na hora de um divórcio, porque o relacionamento entre as duas está morrendo.  Não há mais eletricidade entre elas. Zoe procura por uma nova moradia e incumbe Elizabeth de achá-la.  Neste meio tempo os filhos de ambos os casais começam um caso de amor e sexo. Ruby mais experiente do que Harry apresenta-o às delícias do sexo.  Mas o ponto de conflito emocional vem de outras fontes: uma delas é perceber que já não se é tão jovem, quando os filhos aparecem, como se fosse do nada, prontos para vida adulta. Crises de meia-idade se estabelecem. O mais radicalmente afetado é  Andrew que procura consolo no centro de ioga recém estabelecido em Ditmas Park, que entre meditação e ioga, oferece rituais, massagens e sucos revigorantes de origem duvidosa.  Mas Andrew permanece fiel a Elizabeth, apesar de rodeado pela tentação de jovens de corpos nus à sua volta e do desejo de se sentir jovem.

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São muitos os problemas da trama. O ritmo é lento, muito lento. E a escrita é rasa. Problemas triviais que não merecem uma segunda análise abundam. Há detalhes realçando  situações comezinhas, muitas dúvidas e resoluções corriqueiras que não merecem atenção.  Há uma dezena de pormenores descartáveis, entre eles, o gato chamado Iggy Pop (mesmo nome de um cantor de rock) que aparece com o objetivo de colocar este livro dentro da cena nova-iorquina em voga, de 2016, ano de publicação do livro e também do lançamento do álbum Post Pop Depression do roqueiro.  É uma obra cheia de referências locais, do cenário glamoroso de Manhattan e adjacências.

Não é porque os personagens levam uma vida inexpressiva, não é porque o romance entre Ruby e Harry segue os parâmetros normais do final da adolescência que este livro é maçante.  Há, na verdade, uma tradição enorme, na língua inglesa, na Inglaterra, de livros em que muito pouco acontece a pessoas bastante comuns com problemas delineados como corriqueiros.  Amantes modernos, no entanto, dedica-se à repetição desses momentos, em infinitas variedades,  retrata a incapacidade de personagens resolver ou aceitar seus problemas, sem oferecer maior clareza à condição humana como fazem os escritores ingleses dedicados ao gênero como Barbara Pym, Penelope Fitzgerald, Penelope Lively, Anita Brookner entre outros.

emma straubEmma Straub

Com a leitura de Amantes modernos, tradução de Angela Pessôa, volto a questionar se editores brasileiros leem o que publicam. Este é um livro medíocre, com personagens inexpressivos e trama ordinária. Dedicado a seduzir nova-iorquinos no verão.  Já recebeu aplausos variados nas publicações locais e em algumas nacionais.  A autora é filha do conhecido escritor de livros de horror Peter Straub. Fato que deve ter contribuído para seu sucesso. Não gostei.  E nem deveria ter feito uma resenha.  No entanto, este foi o livro escolhido para leitura em fevereiro por um dos meus grupos de leitura. A maioria não gostou.  Mas, devo ressaltar que as psicólogas presentes na discussão gostaram bastante da obra e duas outras leitoras se juntaram a elas defendendo o texto como extremamente realista.

Dou duas estrelas no máximo, de cinco possíveis.  Elas deram entre três e quatro.

NOTA: este blog não está associado a qualquer editora ou livraria, não recebe livros nem qualquer incentivo para a promoção de livros.


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2 responses

21 02 2018
Letícia Alves

Acho que não leem mesmo não! que livro raso!

21 02 2018
peregrinacultural

É, Letícia, caem no papo do marketing da agente ou da editora que tem os direitos. Pena!

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