O flamboyant da casa ao lado, poema de Ladyce West

21 09 2008

Para comemorar a chegada da Primavera!

 

Paisagem com flamboyant, 1955

Armando Viana, (RJ 1897- RJ 1992)

Óleo sobre tela

Coleção Particular

O Flamboyant da casa ao lado

Ladyce West

 –

Morreu o flamboyant da casa ao lado.

Foi-se o calor de verão da minha infância.

Apagaram-se suas flores alaranjadas,

Fogosos anúncios do início da estação.

Doente e velho, tombou calado e emagrecido.

Sóbrio e distinto, evaporou-se nos cupins.

Deixou em seu lugar espaço raro,

Um ar aberto, um nada enorme, que me espanta.

Um espaço devassado diariamente,

Onde antes, a sombra clara era presente.

O vácuo preencheu meu horizonte.

Galhos partidos, quebrados sobre a ponte.

O tronco doente jogado num instante.

Vergou molhado, encharcado pela chuva.

Mostrando a todos o que só a terra conhecia:

Suas raízes, engrossadas pelo tempo,

Eram agora desvendadas pelo vento.

Tombou sozinho com um único gemido

Doloroso, aceitando o seu destino.

Pernas pra cima em impudico descaso.

Meu companheiro de verões ardentes,

Guardião de minha infância e adolescência.

Exuberante, florescia ano após ano

Desabrochando incandescente em dezembro.

Entre nós havia um rio bem estreito,

Que nascia lá no alto da Rocinha,

Cascateava da nascente até a Gávea,

De onde então serpenteava rumo ao mar.

Era aqui, que deslizava sob as pontes

E atravessava minha rua de mansinho.

De um lado, o flamboyant enraizado;

Do outro, o edifício com meu ninho.

Crescemos juntos, eu e ele aqueles anos.

Nossa distância era pouca e amenizada,

Pois reservava uma flor para meu gozo,

Que escondida pelo batente da janela,

Aos poucos, foi-se chegando espevitada.

E me espreitava, esticando o seu florão.

Curiosa, assim passava os dias quentes.

A cada ano parecia mais chegada.

Era de casa.  Sem receio se hospedava.

Com jeitinho, batia na vidraça,

E enrubescendo se apoiava ao janelão.

Esta flama de verão me viu crescer,

Chorar amores, estudar, adormecer.

Custa-me vê-lo cair, velho soldado!

Quem irá agora anunciar-me o verão?

 

 

Dezembro 2006

 

© Ladyce West, 2006, Rio de Janeiro.


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4 responses

18 10 2009
neusa bartholomeu

…SEMPRE GOSTEI, DESDE MENINA, DE VER AS RUAS ARBORIZADAS…e se fosse com árvores de flamboyant, então… que beleza! A pintura é linda… também gosto de pintar paisagens que tenham lindas e grandes árvores…
Parabéns pela poesia… como pode alguém ter ideias maravilhosas e colocá-las num poema… chorei de saudade… de lembrar a praça lá no centro da cidade… o lindo flamboyant… florescendo no fim do ano…
os Natais eram muito mais lindos… muitas figuras de pessoas, as quais amei muito vieram a minha mente… é quase chegado mais um verão…
abraços… muitos abraços.

21 10 2009
peregrinacultural

Neusa, muito obrigada!

24 06 2010
maria da penha minchetti

Acho linda a sua pintura, pois amo a natureza , suas árvores são maravilhosas,
parabéns continue ……………reproduzindo coisas belas.

10 11 2010
Maria de Fatima Moraes Rodrigues

Prezada Peregrina,

Por casualidade (as vezes, dúvido de casualidades casuais), buscando informação através do google, sobre o Pintor Mário Viana, (tenho uma obra dele), encontrei esse site maravilhoso.
E que surpresa! Arte, Poesia, Literatura… tudo que amamos, que nos faz bem, tranquilizando nosso ser.
Muito obrigada, parabéns pelo belo trabalho e, tenham a certeza, de que as minhas visitas ao site, serão constantes.
Afetuoso abraço.
Maria de Fatima

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