Portas abertas com metrônomo
Charles Hardaker (GB, 1934)
óleo sobre tela, 40 x 40 cm
Muito barulho por nada. Este livro foi cotado como um dos melhores livros de 2017 pelo jornal The New York Times. Obra do paquistanês e britânico Mohsin Hamid, na edição brasileira traz, ainda, na capa, a ratificação do ex-presidente dos EUA, Barack Obama — “um dos melhores livros do ano” — que, fica claro, não leu o que eu li naquele ano. Este livro não faria parte da minha lista das melhores leituras de 2017, nem dos anos subsequentes.
A obra é dividida informalmente em três tempos. Trata-se da história entre um homem e uma mulher, mais para “amizade com benefícios” do que uma história de amor, que se desenrola num país qualquer, do Oriente Médio, muçulmano e em guerra. O casal é formado por uma jovem e corajosa mulher acostumada a desafiar costumes tradicionais, e um rapaz, mais conservador do que ela, um homem sonhador e dependente emocionalmente da família. Este primeiro terço da obra é interessante, pois quebra diversas e costumeiras suposições sobre a vida de jovens muçulmanos e do dia a dia de um lugar em conflito. Não tenho como saber se é um retrato realista dessas circunstâncias. Mas a intenção do autor é que assim julguemos.
De repente, no afã de mostrar diversas possibilidades e ajustes no processo de emigração que se faz necessário para os que desejam sobreviver, somos apresentados às vantagens e problemas de imigrantes em diferentes países, enquanto acompanhamos a vida de Nadia e Saeed em lugares do mundo variados, da Grécia aos EUA, passando pela Inglaterra, na migração sequencial em que embarcaram.
Mohsin Hamid, no segundo tempo, revira a narrativa e através de um dispositivo primário, como portas ou portais para diferentes realidades e incita o questionamento da natureza da terra natal, seu significado e relativismo. O autor mistura gêneros, do quase realismo à fantasia. Essa manobra me deixou fria, desinteressada. E mais: perplexa com o sucesso deste livro.
Mohsin Hamid
No terceiro tempo, passados cinquenta anos, encontramos Nadia e Saeed em sua terra natal, onde Saeed ainda sonha em viajar ao Chile para observar o cosmos. Passagem para o Ocidente é frequentemente aplaudido, pelos leitores de língua inglesa, como um texto poético, narrado com delicadeza. No Brasil, na tradução de José Geraldo Couto, essas qualidades não foram ressaltadas. O livro apresenta uma linguagem objetiva e seca. Cristalina. Sem firulas. Não agrada, nem desmerece a leitura.
Difícil recomendar esta leitura.
NOTA: este blog não está associado a qualquer editora ou livraria, não recebe livros nem incentivos para a promoção de livros.
Parece que, para ser reverenciado atualmente, o escritor tem que misturar estilos, histórias, criar situações pretensamente instigantes, um verdadeiro imbroglio!
Estou tão cansada disso! Você não imagina.
É esse tipo de resenha que eu gosto de ler hahaha. Parabéns!
Obrigada!