“Matéria escura”, de Blake Crouch, resenha

27 11 2017

 

 

eliot-elisofon-marcel-duchamp-descending-a-staircaseMarcel Duchamp descendo a escada, 1952

Fotografia de Elioy Elisofon (EUA. 1911-1973)

40 x 50 cm

 

Matéria escura de Blake Crouch é um livro de ficção científica que foge aos parâmetros de distopia, para causar boas e interessantes reflexões ao leitor interessado na exploração de universos paralelos. Este livro pode ser lido como entretenimento e alerta para a conscientização das escolhas que fazemos. O resultado é uma obra ágil, interessante, que prende a atenção e levanta mais perguntas do que responde.  Excelente resultado para um dos mais interessantes best-sellers que li nos últimos tempos.

Quem nunca se questionou sobre decisões tomadas?  Quem nunca imaginou como teria sido a vida se no lugar de uma escolha, tivesse feito outra?  E se não tivesse filhos?  E se os tivesse? E se no lugar do piano tivesse aprendido a tecer?  E se não tivesse casado com o atual parceiro?  E se tivesse ficado casado com a primeira mulher?  Onde estariam?  Que estariam fazendo? Sua vida seria diferente se no lugar de engenharia tivesse seguido matemática, ou se dedicado  à fotografia?  De que maneira?

 

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A noção de vidas alternativas ou multiverso tem já há algum tempo fomentado a imaginação de escritores que  não se inserem no nicho de ficção científica.  Recentemente obras como O fio da vida de Kate Atkinson, Lágrimas na chuva de Rosa Montero, 1Q84, de Haruki Murakami ou A terra inteira e o céu infinito, de Ruth Ozeki têm demonstrado curiosidade e preocupação com descobertas da física quântica. Multiverso, teoria das cordas são conceitos difíceis de absorvermos, porque temos a tendência da leitura linear de tempo, é o assunto desta segunda década do século. Como entender que o mundo tridimensional  pode ser apenas uma ilusão? E que pode não haver distinção entre o presente e o futuro? Precisamos de uma mudança na maneira de pensar e uma porta se abre para um sem número de possibilidades ainda não imaginadas. Em algum lugar pode haver uma duplicata de mim mesmo ou mais de uma versão de mim.  Não como gêmeos, mas duplicata verdadeiras físicas e emotivas. Um mundo onde nada é único.

O autor americano, Blake Crouch, talvez tenha algumas de suas ideias conhecidas pelo leitor, já que a série televisiva Wayward Pines é baseada em um de seus livros.  No entanto, em Matéria Escura ele parece dar um passo além, mesmo sendo um thriller que se aproxima de uma explicação do multiverso.  Para isso Blake Crouch trabalhou uma história de amor, um romance, sobre um homem que não se dá conta de quanto  ama a vida que tem até o momento em que se encontra em outra realidade, tentando voltar para o mundo que conhece.  Nessas tentativas é apresentado a uma enormidade de versões de si mesmo, no multiverso.

 

blake crouchBlake Crouch

 

Além de ser um thriller, este livro convida o leitor a reavaliar decisões, escolhas e  possibilidades deixadas para trás.  Porque assim como Jason Dessen, personagem principal, professor de física em Chicago, descobre outras versões de si mesmo, nós também podemos e temos que aceitar nossa duplicação a cada escolha feita.  Aceitar que pode haver milhares de outros eus, leitores, versões diferentes de nós mesmos é produzir verdadeira revolução no pensamento e reavaliar conceitos de nós mesmos e do mundo em que vivemos.  Em suma de tudo que conhecemos.

Esse livro não trata de ciência, mas mostra conceitos de realidades múltiplas e universos paralelos de maneira que podemos começar a nos familiarizar com esses preceitos, pois na trama eles parecem críveis e lógicos.  Blake Crouch consegue equilibrar a trama com  ilustração de conceitos científicos que acabam por nos dar a sensação de entendimento, de compreensão.

Na tradução de Alexandre Raposo, Matéria escura se torna uma maneira divertida de entreter e aprender algumas noções de física quântica.  Muito bom, agradável e enriquecedor.

 

 

NOTA: este blog não está associado a qualquer editora ou livraria, não recebe livros nem qualquer incentivo para a promoção de livros.

 


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Uma resposta

27 11 2017
Maria Madalena

Fiquei muito interessada.

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