Resenha: “A garota de Boston” de Anita Diamant

24 07 2016

 

 

Ginger greenblatt“Front Beach” em Rockport, Ma, 2013

Ginger Greenblatt (EUA, contemporânea)

óleo sobre tela, 40 x 50 cm

http://artginger.com

 

 

 

Que bela voz narrativa seduz o leitor de A garota de Boston! Addie Baum, personagem principal, conta para sua neta, prestes a se formar, sobre sua juventude, e sobre a família, imigrantes poloneses que precisavam  trabalhar,  vencer e sobreviver no início do século XX na cidade de Boston.  Com essa premissa Anita Diamant  leva o leitor a revisitar os primeiros trinta e poucos anos do século passado mostrando ao invés de descrever as dificuldades dos imigrantes, de qualquer nacionalidade, em se adaptarem e ajustarem a um novo país.  Ela também nos instrui a respeito de facetas da história americana facilmente esquecidas cem anos depois.

O que empolga a respeito dessa narrativa fácil de ler, dessa suave volta ao passado é a encantadora personagem principal, a única da família já nascida em solo americano e que, talvez por isso mesmo, é aquela com o espírito desbravador e rebelde.  Não é a única rebelde. Addie tem habilidade de se rodear por pessoas que também se rebelam contra costumes da época, hábitos do velho mundo transportados para o novo e consegue, através dos anos, formar com outras jovens com que se relaciona, um grupo de mútuo apoio.

 

 

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Ainda que Addie Baum seja filha de imigrantes judeus, e que os costumes mantidos pela família sejam aqueles o mais próximo possível dos perpetuados na Polônia, Anita Diamant nos faz ver que dentro do judaísmo havia e há diferentes costumes e diferentes enfoques. Além disso, a autora mostra, com sucesso, que a vida do imigrante é a mesma para quase todas as culturas: italianos, judeus, irlandeses.  Foram bem recebidos mas com preconceitos, como parecem ser até hoje em qualquer lugar do mundo.  Os que os hospedam não entendem hábitos diferentes, nem costumes estranhos.  No final são só as gerações futuras que são as verdadeiras donas da terra.

Mais que isso, a história de Addie Baum mostra que, diferente do folclore cultural que acredita ser impossível;  mulheres podem, conseguem e fazem amizades profundas com outras mulheres que, por sua vez, lhes servem de equipe de apoio.  A crendice de que mulheres estão sempre competindo com suas iguais é um mito.  Mais do que qualquer homem, elas sabem entender os problemas das outras. Por essa perspectiva A garota de Boston poderia ser considerado um livro feminista, porque é uma história de empoderamento da mulher.  Mas é tão suave e delicioso que a mensagem feminista vem no contexto, quase na reflexão pós-leitura. Enquanto a história se desenrola, torcemos por Addie, por sua independência, por sua necessidade de conhecimento, pelo sucesso, profissional e amoroso que deveria coroá-la.

 

anita diamantAnita Diamant

 

Esta história é uma pouco mais longa do que uma novela ou um conto prolongado.  Diagramação editorial o transforma num livro de quase 300 páginas(272), mas é facilmente devorado num fim de semana.  Nele encontrei uma heroína que não era comum quando eu tinha meus dezesseis anos e procurava exemplos de mulheres que se rebelavam e “dava certo”.  Felizes são as moças de hoje que podem encontrar em Addie Baum alguém em quem se espelhar. É um livro que levanta o espírito, que joga a leitora para uma visão positiva da vida.  Não há nada de errado com isso.  E apesar de minha sobrinha estar com vinte e poucos anos, ela receberá esse livro pelos correios, com um cartão da tia: “Leia, tenho certeza de que vai gostar.”

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25 07 2016
mariel

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