Resenha: “Memórias de um casamento” de Louis Begley

3 04 2016

 

Konstantin Razumov (Russia,1974)Elégante sur la terrasse, ost, 33 x 22 cmElegante no terraço

Konstantin Razumov (Rússia, 1974)

óleo sobre tela, 33 x 22 cm

 

 

Na capa de trás da edição brasileira de Memórias de uma casamento, somos  informados de que aqui encontraremos “um olhar profundo sobre uma classe e seus privilégios, numa trama que se desenvolve entre Paris e Nova York, Long Island e Newport”. Coroando essa apresentação, como que para justificá-la temos uma citação atribuída ao Washington Post: “Entre os escritores contemporâneos, Begley talvez seja o crítico mais sagaz e devastador do sistema de classes da sociedade americana”.  Nada mais ilusório.  Ainda que os personagens dessa narrativa sejam pessoas da classe social mais alta nos EUA, o foco está no retrato de uma mulher, complexa, vazia, intolerante, fútil, provavelmente ninfomaníaca, certamente  desequilibrada emocionalmente.  Como ela, existem centenas de outras em qualquer classe social. Ela causa danos a qualquer grupo familiar. Não importa, na verdade, onde nasceu, em que família, com quem casou.  Tipos como o dela não precisam ser da mais alta sociedade.  Eles existem em todo canto.

 

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Louis Begley é fiel a dois de seus predecessores: Henry James, grande mestre da literatura americana de final de século, também produziu, como mandava o seu tempo, romances  retratando tipos de mulher: Portrait of a Lady; Daisy Miller vêm à mente;  enquanto  Louis Auchincloss, já em pleno século XX,  também se esmerou nesse gênero como o fez em Sybil, The Dark Lady e outros. No Brasil, deste autor, encontramos em tradução:  A infinita variedade dessa mulher mais um de seus perfis de mulher.  Curiosamente, ambos Henry James e Louis Auchincloss se especializaram nos retratos de mulheres das classes sociais mais altas dos EUA.  No Brasil, a tradição literária dos perfis de mulher,  não se limita às classes mais altas, mas, como nos EUA, começa no século XIX, com Machado de Assis [Helena] e sobretudo com José de Alencar [Senhora, Diva, Lucíola, entre outros].

 

louis begleyLouis Begley

 

Ficam por aí as comparações. Ainda que a prosa de Louis Begley  seja agradável e os olhos corram sem obstáculos pelo texto, a apresentação da personagem principal Lucy De Bourgh, herdeira de mais de uma família importante da Nova Inglaterra,formada por pessoas  vindas no Mayflower e no Arabella, portanto entre os primeiros a chegar no continente americano, é monótona. Não há diálogos nestas 194 páginas. Há monólogos  de Lucy, de Jane.  Há cartas.  Em suma, falta dinamismo no texto. Temos diversos relatos, por diferentes pessoas. Contudo o texto flui.  Não só por habilidade do autor, mas também pela malévola e mórbida curiosidade despertada no leitor para saber sobre os detalhes, tintim por tintim, do malfadado casamento, onde o respeito pelo próximo é inexistente.

Tivesse Louis Begley usado de outros meios para narrar talvez pudesse ter despertado maior interesse nesta leitora.  Como está, trata-se de uma obra um tanto medíocre se comparada às suas anteriores, principalmente Sobre Schmidt e Schmidt Recua.


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