Resenha: “Altos voos e quedas livres” de Julian Barnes

23 08 2017

 

 

 

 

Vue du pont de Sèvres, 1908 - Henri Rousseau.Vista da Ponte de Sèvres, 1908

Henri Rousseau [Le Douanier] (França, 1844 – 1910)

óleo sobre tela, 81 x 100 cm

Museu Pushkin, Moscou

 

 

 

Altos voos e quedas livres é um ensaio dividido em três partes. Aborda paixão, amor, perda, morte e luto — sentimentos universais.  Além disso,  dá raro vislumbre sobre a maneira do autor pensar, organizar assuntos e interesses. Até que nos surpreendemos porque de um material distinto, sem conexão aparente, sub-repticiamente entra no assunto principal da obra:  o luto pela  morte da mulher amada.  Inicialmente a narrativa não parece contínua. Stacatto.  Somos apresentados a fatos, a histórias sobre balonismo.  De balões passamos ao uso da fotografia no século XIX. Assuntos que parecem não ter nada em comum. Finalmente entramos na terceira e última parte, quando tudo díspar coalesce numa meditação sobre o luto, o processo do luto que o escritor atravessa depois da morte de sua esposa, companheira de vida inteira.

“Processo de luto. Parece um conceito claro e sólido. Mas é um termo fluido, escorregadio, metafórico. Às vezes passivo, um período de espera pelo desaparecimento do tempo e da dor.; às vezes ativo, uma atenção consciente à morte, e à perda, e à pessoa amada…”[113]

 

ALTOS_VOOS_E_QUEDAS_LIVRES__1394112392B

 

Cada pessoa trata da perda de um ente querido à sua maneira. É uma emoção particular, vivenciada solitariamente,  impossível de ser comunicada ou dividida. No entanto, é universal,  poderosa, toma o corpo e a alma, os sentimentos do ser humano. Compreende-se sua complexidade quando a testemunhamos, como neste ensaio,  simultaneamente triste, quase sempre romântico, e desde o início provocativo.  Este é um texto que requer reflexão, no início, lá no nível sonhador, do éter e seus balões, até o nível da terra, lugar onde vivenciamos nossas dores.

Luto é um sentimento que todos entendem.  Faz parte da condição humana. A dor da morte de um ser amado é experiência que não se deseja a ninguém mas que vivenciada é devastadora. Há diversas obras literárias dedicadas ao assunto Enquanto agonizo de William Faulkner; O ano do pensamento mágico de Joan Didion são duas das de que me lembro agora.  Altos voos e quedas livres toma agora um lugar entre elas, estará entre as mais belas, mais sentidas, mais reveladoras no complexo caminho dos sentimentos do amante que sobrevive.

 

Julian-BarnesJulian Barnes

 

Lembrar de quão vulnerável é a vida humana é essencial.  Só assim podemos nos dedicar a realmente viver o momento.  Julian Barnes mostra o amor em todas as suas facetas e a falta que o ente querido faz para quem ama.  Não deixe de ler. Belíssima obra.

 

 

NOTA: este blog não está associado a qualquer editora ou livraria, não recebe livros nem qualquer incentivo para a promoção de livros.


Ações

Information

3 responses

23 08 2017
Letícia Alves

Li a resenha de um fôlego só e obviamente me interessei pelo livro! Já vou anotar a dica! beijos!

23 08 2017
peregrinacultural

Acho que você vai gostar deste livro!

17 12 2017
Peregrina escolhe os melhores livros do ano | Peregrinacultural's Weblog

[…] Altos voos e quedas livres, Julian Barnes, uma das mais belas ficções/ensaios sobre o luto.  Traz a marca registrada do autor, que navega dentro e fora do ensaio e da ficção literária com desenvoltura inigualável. Extrema sensibilidade. Resenha aqui. […]

Deixe um comentário