Resenha: 24 horas na vida de uma mulher — Stefan Zweig

1 02 2009

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Roulette em Monte Carlo, c. 1900

SEM  [Georges Goursat]  (França 1863-1934)

 

 

Foi com ansiedade e saudosismo, que li ontem, de uma só sentada, 24 horas na vida de uma mulher – um dos trabalhos mais conhecidos de Stefan Zweig.  Sempre me senti bastante familiarizada com o autor, não porque houvesse lido qualquer de seus trabalhos, mas porque seus livros faziam parte de uma pequena coleção de capa dura e letras pretas, talvez meia dúzia de volumes, que habitaram por muitas décadas as estantes da casa de meus pais.  Lembro-me principalmente da vida de Maria Antonieta cujo volume recordo nas mãos de minha mãe, em leitura e re-leituras.  E é claro, crescendo aqui no Brasil, quem não se lembraria pelo menos do título do volume Brasil país do futuro, expressão fartamente popularizada na política e peça de despedida do autor austríaco, que refugiado em Petrópolis, suicida-se em 1942 junto com sua segunda esposa.  Meus pais eram leitores de Zweig, que admiravam.  Mas, por razões desconhecidas, eu nunca o havia lido.

 

Em 2006, a  New York Times Review of Books publicou um artigo, de Joan Acocella, acompanhando a re-edição de Zweig nos EUA, que lembrava aos leitores de hoje sobre a injustiça do esquecimento de Stefan Zweig, um escritor excepcional do início do século XX, cujos contos e romances ficaram conhecidos pelos retratos psicológicos dos personagens.   Joan Acocella lembrou também da linguagem precisa do autor, de sua sutileza e gentil narrativa.  

 

zweig

 

A tradução de Lya Luft, nesta edição da LP&M é maravilhosa.  Não há nunca a sensação de que a obra foi traduzida.  Há uma cadência, uma expressão lingüística que coloca de fato Zweig no meio dos escritores da Europa germânica, eslávica.  Sua maneira de escrever, suas preocupações lembraram-me em muito os romances de Sándor Màrai.    O estilo e as preocupações dos cidadãos do antigo  império austro-húngaro são palpáveis nos trabalhos de ambos escritores.

Stefan_Zweig2Stephan Zweig

 

Acho, no entanto, que pelo menos neste livro 24-horas na vida de uma mulher, dito um dos livros favoritos de Sigmund Freud, o retrato psicológico do jogador obsessivo, talvez mesmo, pela popularidade dos estudos psicológicos através do século XX, perde um pouco do viço, da novidade.  A história é previsível.  Ligeiramente datada.  Mas o estilo, a maneira de escrever — ah! — estes aspectos estilísticos são fenomenais.  Chega a ser difícil separar um único trecho, um parágrafo para ilustrar a beleza, a claridade do texto.

 

“…Nunca no teatro fitei com tamanha atenção o rosto de um ator como olhei aquele semblante, onde, como luz e sombra sobre uma paisagem, ocorria uma incessante alternância de todas as cores e sentimentos.  Nunca segui um jogo com tamanha intensidade como no reflexo daquela estranha excitação.  Se alguém me observasse nesse instante teria considerado meu olhar fixo como uma hipnose, meu estado se parecia com isso – eu simplesmente não conseguia afastar os olhos daquela expressão facial, e tudo o  mais que havia no salão, luzes, rostos, pessoas e olhares, apenas me envolvia sem forma como uma fumaça amarela no meio da qual estava aquele rosto, chama entre chamas.  Eu não ouvia nada, nada sentia, não percebia gente ao meu lado, outras mãos que se estendiam de repente como antenas…”

 

A maneira precisa e envolvente com que Stefan Zweig caracteriza seus personagens, nos faz presa fácil, incapazes que somos, de nos separar de seu estilo mesmerizante.  Certamente encontramos no escritor um grande mestre da escrita.  E se este pequeno romance é um bom exemplo do resto de sua obra, Zweig é com certeza um escritor que não merece cair no esquecimento.





A peregrina escolhe as melhores leituras de 2021

29 12 2021

Colombina, 2002

Francine van Hove (França, 1942)

óleo sobre tela

Foram quarenta e seis livros lidos e outros tantos parcialmente, principalmente coletâneas de poesias, não listadas por aqui.  Neste segundo ano de pandemia tive maior dificuldade de me interessar por ficção.  Continuei lendo, é claro, mas me voltei cada vez mais para os livros de ensaios, de história ou de estudos em diversas áreas, longe da literatura.  Abaixo vocês encontrarão minha lista inteira.

Leituras de 2021

Pachinko, Min Jin Lee                 

Torto arado, Itamar Vieira Júnior

Clube do livro dos homens, Lyssa Kay Adams

 A guerra não tem rosto de mulher, Svetlana Aleksiévitch

A trança, Laetitia Colombani

A trégua, Mário Benedetti — RELIDO

A redoma de vidro, Sylvia Plath

A lista de convidados, Lucy Foley

A porta, Magda Szabó

Cartas de um diabo ao seu aprendiz, C. S. Lewis

A cachorra, Pilar Quintana

A pediatra, Andrea del Fuego                                  

Cabine para mulheres, Anita Nair — RELIDO

A vida mentirosa dos adultos, Elena Ferrante

O mundo de Sofia, Jostein Gaarder

Na boca do leão, Anne Holt

O enigma do quarto 622, Joel Dicker

O clube do crime das quintas-feiras,  Richard Osman

Na corda bamba, Kiley Reid

O clube de leitura de Jane Austen, Karen Joy Fowler

Sira, Maria Dueñas

Nada ortodoxa, Deborah Feldman

Afetos ferozes, Vivian Gornick

A roupa do corpo, Francisco Azevedo

A paciente silenciosa, Alex Michaelides

As mulheres de terça-feira, Monika Peetz

Lua no céu de Cabul, Nadia Hashimi

 A voz do tempo, Lenah Oswaldo Cruz  RELIDO

21 lições para o século 21, Yuval Noah Harari RELIDO

24 horas na vida de uma mulher e outras novelas, Stefan Zweig 

A mercadoria mais preciosa, Jean-Claude Grumberg

A esposa americana, Curtis Sittenfeld                  

Timbuktu, Paul Auster

A dama das camélias, Alexandre Dumas Filho

Admirável mundo novo, Aldous Huxley – RELIDO

Urupês, Monteiro Lobato

A peste, Camus – RELIDO

O primeiro amor é sempre o último, Tahar Ben Jelloun

Balada de amor ao vento, Paulina Chiziane

Vamos comprar um poeta, Afonso Cruz

Rosa Candida, Audur Ava Ólafsdóttir

Rita Lee – uma autobriografia, Rita Lee

Em inglês:

Mama’s last hug, Frans de Waal

The Hedgehog, the fox and the Magister’s Pox, Stephen Jay Gould

Breath, James Nestor

Forward, Andrew Yang

Na área de ficção fico com os três que mais me impressionaram:

Afetos ferozes, Vivian Gornick

A esposa americana, Curtis Sittenfeld 

Pachinko, Min Jin Lee       

Menção honrosa para os seguintes livros:

24 horas na vida de uma mulher e outras novelas, Stefan Zweig 

Rosa Candida, Audur Ava Ólafsdóttir

O primeiro amor é sempre o último, Tahar Ben Jelloun

 

Relendo, os mais importantes:

A trégua, Mário Benedetti

A peste, Camus

Admirável mundo novo, Aldous Huxley

 

Pensando no Futuro, recomendo, quando e se estiver em português, o livro de Andrew Yang, Forward.

 





Oito pequenos notáveis: livros inesquecíveis com menos de 200 páginas

8 09 2015

 

 

Still Life (French Novels) painting by Vincent van Gogh (c. 1888 Paris, France) Van Gogh Museum, Amsterdam, NetherlandsRomances franceses, 1888

Vincent van Gogh (Holanda, 1853-1890)

óleo sobre tela, 73 x 53 cm

Museu van Gogh, Amsterdam

 

 

Tendo lido recentemente O sentido de um fim, de Julian Barnes, uma obra com meras 156 páginas, resolvi listar outras pequenas joias literárias que se apresentam de maneira sucinta e que nem por isso perdem o verdadeiro objetivo da boa literatura: mover o leitor a refletir.   Assim aqui vai mais uma lista para quem segue o blog, escolhido pela Peregrina.

 

Pequenos notáveis

Livros inesquecíveis com menos de 200 páginas

 

 

EM ORDEM ALFABÉTICA

 

As Avós de Doris Lessing

 

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Billy Budd, marinheiro de Herman Melville

 

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A Casa de Papel de Carlos Maria Dominguez

 

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A Fera na Selva de Henry James

 

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O Sentido de um fim de Julian Barnes, obra vencedora do Man Booker Prize de 2011.

 

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A Trégua de Mário Benedetti

 

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Vermelho Amargo de Bartolomeu Campos de Queirós

 

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24 horas na vida de uma mulher, de Stefan Zweig

 

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Mais algum que deixei de lado?  Tem que ser sensacional.  Obras com menos de 200 páginas existem aos borbotões.  Mas que deixem marcas no coração?