O estilo do grilo, poesia infantil de Luiz Infante

3 10 2023
Ilustração de Nina Tenser

O estilo do grilo

 

Luiz Infante

 

Era uma vez um grilo

que morava numa gaiola

em grande estilo.

De cri-cri em cri-cri

Foi vivendo tranquilo

A comer alface ao quilo,

Quase tão voraz

Como qualquer esquilo.

Respondendo ao protesto

Sobre o ruído que fazia,

Disse com ironia

“Se era silêncio que queria

Era só pedi-lo,

Que um grilo não é

Uma telefonia”

 

 

Em: Poemas Pequeninos para Meninas e Meninos, Luiz Infante, V. N. de Gaia: Gailivro: 2003, p 40





Curiosidade literária

10 07 2023
Ilustração Kathy Lawrence.

 

 

Sylvia Plath, mais conhecida como autora do livro de poesias Ariel e de A Redoma de Vidro onde se estabeleceu com cenas quentes, trágicas, explorando a depressão, também é autora de um livro delicioso de poesias para crianças, que compôs para seus próprios filhos: Frieda e Nicholas. O título já explica o que é: O livro da cama.  Nele encontramos uma série de poesias gostosas e divertidas, com algum non-sense, sobre diferentes tipos de cama: cama para pescar, cama para gatos, cama de solteiro, e assim por diante.  Foi publicado com ilustrações do aclamado artista gráfico Quentin Blake que também foi o ilustrador original dos livros Dr. Seuss. 





A borboleta azul, poesia infantil de Cleonice Rainho

27 02 2023

 

 

A borboleta azul

 

Cleonice Rainho

 

Nosso jardim é uma festa

de borboletas:

pequenas e grandes,

listradas,

amarelas e pretas

e uma pintadinha

que é uma graça.

 

Mas a azul, azulzinha,

a preferida,

é como se fosse

minha filhinha:

vi-a nascer da lagarta,

virou crisálida,

depois borboleta.

 

Quando voou

pela primeira vez

bati palmas: Vivô!!!

 

Voa e volta leve,

azul, azulzinha

e pousa num cacho

de rosas brancas

sua casinha.

 

Às vezes se ajeita,

mansinha,

tomando a forma

de um coração.

 

Seu corpo sedoso,

macio,

parece vestido

com pano do céu.





A enxadinha, poesia infantil de Faria Neto

24 05 2022
Ilustração de Rudolf Koivu (Finlândia, 1890–1946)



A enxadinha

Faria Neto

Minha enxadinha

trabalha bem;

corta matinhos

num vai-e-vem.

Minha enxadinha

vai descansar

para amanhã

recomeçar.

Adeus, rocinha!

Adeus, trabalho!

A vós, plantinhas

o doce orvalho.





Ano-Bom, poesia de Olavo Bilac

11 11 2021

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Ano-Bom

Olavo Bilac

Ano-Bom. De madrugada,

Bebê desperta, e, assustada,

Avista um vulto na cama.

Que será? Que medo! E, tonta,

Eis que Bebê se amedronta,

Chora, grita, chama, chama…

Mas, quando se abre a cortina,

Quando o quarto se ilumina,

Bebê, de pasmo ferida

Vê que o medo não é justo:

Pois a causa de seu susto

É uma boneca vestida.

Que linda! é gorda e corada,

Tem cabeleira dourada

E olhos cor do firmamento…

Põe-na no colo a criança,

E de olhá-la não se cansa,

Beijando-a a todo o momento.

Nisto a mamãe aparece.

Como Bebê lhe agradece,

Com beijos, risos e abraços!

— Porém, logo, de repente,

Diz à mamãe, tristemente,

Prendendo-a muito nos braços:

“Mamãe! como sou ingrata!

“Com tantos mimos me trata,

“Tão boa, tão dedicada!

“Dá-me vestidos e fitas,

“Dá-me bonecas bonitas,

“E eu, mamãe, não lhe dou nada!…

“Tolinha! (a mãe diz, num beijo)

“As festas que eu mais desejo,

“Ó minha filha, são estas:

“A tua meiga bondade

“E a tua felicidade…

“Não quero melhores festas!”

Em: Poesias infantis, Olavo Bilac, Rio de Janeiro, Francisco Alves: 1949, pp 98-100





Patinhos na lagoa, poesia infantil de Henriqueta Lisboa

7 06 2021
Ilustração de Cicely Mary Barker (GB, 1895-1973)
 
Patinhos na lagoa

 

Henriqueta Lisboa

 

Chegam de manso, de manso,

finos pescoços esticam,

deslizando, deslizando,

ferem o espaço com o bico,

deslizando

na superfícies do vidro.

 

O espelho da água que ondula

reflete frocos de arminho

(arminho, paina, algodão).

E as nódoas brancas no azul

são delicadas carícias,

recordam jardins de inverno

quando há lã, cristais e neve.

 

Na lagoa muito fria,

sob o ouro do sol que brilha,

mora um céu:

navegam nuvens, navegam …

Doçura da hora que escoa

vagarosa, deslizando

como um pato na lagoa…

 

Em: O menino poeta, Henriqueta Lisboa, (Edição ampliada) Imprensa Oficial de Belo Horizonte, Governo do Estado de Minas Gerais: 1975, pp 59-60





Casamento de raposa

20 10 2020

Ilustração de Georgia Dunn.

Casamento de raposa

Wilson W. Rodrigues

 

Chuva com sol é tão raro

como pérola de Ormuz;

da chuva pingos tão claros

e do sol pingos de luz.                   

 

 

Chuva com sol é tão doce

que parece a redenção

do bem e do mal reunidos

numa suave canção.

 

 

Chuva com sol nos sugere,

se é que pode sugerir,

olhos tristes a chorar

lábios felizes a rir…

 

 

Em: Beija-flor: poemas, Wilson W. Rodrigues, Rio de Janeiro, 1949, Publicitan Editora: p. 115





As velhas árvores, Olavo Bilac

16 06 2020

 

 

Edgar Walter - Quadro á óleo sobre tela representando Parque com figuras.54 x 72 cmParque com figuras

Edgar Walter (Brasil, 1917-1994)

óleo sobre tela, 54 x 72 cm

 

As velhas árvores

 

Olavo Bilac

 

Olhas estas velhas árvores,  — mais belas,

Do que as árvores moças, mais amigas,

Tanto mais belas quanto mais antigas,

Vencedoras da idade e das procelas…

 

O homem, a fera e o inseto à sombra delas

Vivem livres de fomes e fadigas;

E em seus galhos abrigam-se as cantigas

E alegria das aves tagarelas…

 

É preciso, desde a infância,

Ir preparando o futuro;

Para chegar à abundância,

É preciso semear…

 

Não nasce a planta perfeita,

Não nasce o fruto maduro;

E, para ter a colheita,

É preciso semear…

 

Em: Poesias infantis, Olavo Bilac, Rio de Janeiro, Francisco Alves: 1949, pp 115-116





Eu e a árvore, poesia infantil de Martins d’Alvarez

11 05 2020

 

 

meninos na arvore

 

Eu e a árvore

 

Martins d’Alvarez

 

Quando nasci, papaizinho

plantou, em nosso quintal,

uma arvorezinha esguia,

para ver qual de nós duas

cresceria mais depressa,

qual mais alta ficaria.

 

Mamãe cuidava de mim

e papai cuidava da árvore,

toda noite e todo dia.

Mas, enquanto eu engordava,

crescendo para todo lado,

a arvorezinha subia…

 

Hoje, já estamos crescidas.

Ela bate no telhado…

Eu só alcanço a janela;

mas por vingança, eu me trepo

nos galhos, até ficar

muito mais alta que ela.

 

Em: O mundo da criança: poemas e rimas: , vol. I, Rio de Janeiro, Delta: 1975, p. 99

 

 





“Bosquejo” poesia de Raimundo Correia

27 04 2020

 

 

Eduardo Feitosa, (Brasil, Sb do campo, 1957)mãe e filha, ostMãe e filha lendo

Eduardo Feitosa (Brasil, 1957)

óleo sobre tela

 

 

Bosquejo

 

Raimundo Correia

 

Repica o sino na matriz da vila,

Como um dia de gala…

São dez horas somente; o sol rutila,

Faísca o espelho de cristal na sala.

 

A pêndula palpita,

Compassada e monótona;  singelo,

Numa gaiola, elétrico saltita

Um canário amarelo.

 

São dez horas; erguidas

As persianas deixam ver, distantes,

Das árvore floridas

As frondes verdejantes.

 

Sutil essência de magnólia e rosa

Repassa o ambiente,,,  e a mãe a ler ensina,

Sorrindo  carinhosa,

A loura filha,  ingênua e pequenina.

 

 

Em: Poesia Brasileira para a Infância, Cassiano Nunes e Mário da Silva Brito, São Paulo, Saraiva: 1967, Coleção Henriqueta, p. 24.