A enxadinha
Faria Neto
Minha enxadinha
trabalha bem;
corta matinhos
num vai-e-vem.
Minha enxadinha
vai descansar
para amanhã
recomeçar.
Adeus, rocinha!
Adeus, trabalho!
A vós, plantinhas
o doce orvalho.
Faria Neto
Minha enxadinha
trabalha bem;
corta matinhos
num vai-e-vem.
Minha enxadinha
vai descansar
para amanhã
recomeçar.
Adeus, rocinha!
Adeus, trabalho!
A vós, plantinhas
o doce orvalho.
Casamento de raposa
Wilson W. Rodrigues
Chuva com sol é tão raro
como pérola de Ormuz;
da chuva pingos tão claros
e do sol pingos de luz.
Chuva com sol é tão doce
que parece a redenção
do bem e do mal reunidos
numa suave canção.
Chuva com sol nos sugere,
se é que pode sugerir,
olhos tristes a chorar
lábios felizes a rir…
Em: Beija-flor: poemas, Wilson W. Rodrigues, Rio de Janeiro, 1949, Publicitan Editora: p. 115
Vinícius de Moraes
Quer ver a foca
Ficar feliz?
É por uma bola
No seu nariz.
Quer ver a foca
Bater palminha?
É dar a ela
Uma sardinha.
Quer ver a foca
Fazer uma briga?
É espetar ela
Bem na barriga!
Em: A arca de Noé, Vinícius de Moraes, Livraria José Olympio Editora: 1984; Rio de Janeiro; 14ª edição, página 67-69.
Tropicana I, 1985
Anysio Dantas (Brasil, 1933 – 1990)
serigrafia tiragem 76-100, 89 x 66 cm
Walter Nieble de Freitas
Alta, esguia, majestosa,
De uma beleza sem par,
Contemplo a esbelta palmeiraaaaa
Banhada pelo luar.
A seus pés um lago azul,
Onde em calma ela se mira,
Põe na paisagem noturna
Cintilações de safira.
De longe, chega em surdina
A voz rouca das cascatas:
É a sinfonia dos rios
Soluçando serenatas.
Nessa hora em que a noite é um templo,
E o firmamento, um altar,
Sob os círios das estrelas
Em silêncio a vi rezar.
Na linguagem da saudade,
O coração da palmeira,
Pedia as bênçãos do céu
Para a terra brasileira.
Em: Barquinhos de Papel: poesias infantis, Walter Nieble de Freitas, São Paulo, Difusora Cultural:1961, pp. 61-62
Elias José
Um livro
é uma beleza,
é caixa mágica
só de surpresa.
Um livro
parece mudo,
Mas nele a gente
descobre tudo.
Um livro
tem asas
longas e leves
que, de repente,
levam a gente
longe, longe
Um livro
é parque de diversões
cheio de sonhos coloridos,
cheio de doces sortidos,
cheio de luzes e balões.
Um livro é uma floresta
com folhas e flores
e bichos e cores.
É mesmo uma festa,
um baú de feiticeiro,
um navio pirata do mar,
um foguete perdido no ar,
É amigo e companheiro.
Em: Caixa mágica de surpresa, Elias José, 1997: Editora Paulus
Retrato da menina Maria Catarina Douat, 1957
Win van Dijk ( Holanda/Brasil, 1915-1990)
óleo sobre tela, 95 x 60 cm
Stella Leonardos
(Para Leilá)
É uma sílfide dançando.
É uma infanta adolescendo.
Cabelo de ouro brilhando.
Alvor de lírio crescendo.
Coração de cristal puro,
Alma de rosa nevada,
Sonha trepada no muro.
E não sabe que é uma fada.
Em: Pedaço de Madrugada, Stella Leonardos, Rio de Janeiro, Livraria São José: 1956, p.51
Mário Quintana
Primavera cruza o rio,
Cruza o sonho que tu sonhas.
Na cidade adormecida
Primavera vem chegando.
Catavento enlouqueceu,
Ficou girando, girando,
Em torno do catavento
Dançamos todos em bando.
Dancemos todos, dancemos,
Amadas, mortos, Amigos,
Dancemos todos até
Não mais saber o motivo….
Até que as paineiras tenham
Por sobre os muros florido!
Em: Antologia Poética para a Infância e a Juventude, Henriqueta Lisboa, Rio de Janeiro, Instituto Nacional do Livro: 1961, pp: 121-2.
Quatro meninas em Åsgårdstrand, 1903
Edvard Munch (Noruega, 1863-1944)
óleo sobre tela, 87 x 111 cm
Museu Munch, Oslo
Stella Leonardos
Elas eram quatro rosas
Sendo cada qual mais bela.
A vermelha, a cor de rosa.
A de corola amarela…
Mas a quarta era Rosinha,
Branca branca, bem singela.
Levou-a Deus manhãzinha.
Que era rosa de anjo, aquela.
Em: Pedaço de Madrugada, Stella Leonardos, Rio de Janeiro, Livraria São José:1956, p.63
Cleómenes Campos
Amigo, faze o bem: esse prazer dispensa
a maior recompensa:
— Aqueles frutos saborosos
que o teu vizinho colhe, às vezes, a cantar,
custaram com certeza, os trabalhos penosos
de alguém que já sabia
que nunca em sua vida, os colheria…
Mas nem por isso os deixou de plantar.
Em: Poesia Brasileira para a Infância, Cassiano Nunes e Mário da Silva Brito, São Paulo, Saraiva: 1967, Coleção Henriqueta, p. 87.
Olavo Bilac
Sou o Tempo que passa, que passa,
Sem princípio, sem fim, sem medida!
Vou levando a Ventura e a Desgraça,
Vou levando as vaidades da Vida!
A correr, de segundo em segundo,
Vou formando os minutos que correm…
Formo as horas que passam no mundo,
Formo os anos que nascem e morrem.
Ninguém pode evitar os meus danos…
Vou correndo sereno e constante.
Desse modo, de cem em cem anos,
Formo um século e passo adiante.
Trabalhai, porque a vida é pequena
E não há para o Tempo demoras!
Não gasteis os minutos sem pena!
Não façais pouco caso das horas!
Em: Criança Brasileira, Theobaldo Miranda Santos, 3º livro de leitura, especial para o Estado de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Agir: 1952, p. 91