Curiosidade literária

3 04 2023

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O britânico George Gordon Byron (1788-1824), 6.º Barão Byron, ou Lord Byron, foi um dos mais influentes poetas ingleses.  Além de sua associação ao romantismo, ganhou fama no folclores literário por suas múltiplas aventuras amorosas: aparentemente ninguém conseguia escapar de seus encantos. A primeira obra que o fez centro de atenções e ilibações literárias foi publicada em 1812, com o título  Childe Harrod’s Pilgrimage [Peregrinação de  Childe Harrod].  Nela Byron descreve, em poesia, a longa viagem que fez por países europeus e do Oriente Médio. A fama veio súbita, logo após a publicação só dos dois primeiros cantos.  O sucesso foi tão rápido e completo que há registro de Byron ter exclamado  “I awoke one morning and found myself famous” [Acordei uma manhã e me encontrei famoso] acentuando sua conhecida imodéstia.  No entanto, além das escapadas amorosas e das publicações que agradaram ao público e à crítica, Byron cultivou a peculiaridade de viajar sempre, e viajou muito, com algumas dezenas de animais.  Um exemplo, foi a viagem que fez a Veneza, quando levou dez cavalos, três macacos, três pavões, oito cachorros, cinco gatos, uma cegonha, um falcão, uma águia e um corvo. 





Imagem de leitura — Ferdinand Waldmüller

21 02 2017

 

 

 

ferdinand-waldmuller-young-women-reading-a-letter-1841

Moças lendo carta, 1841

Ferdinand Georg Waldmüller (Áustria, 1793-1865)

óleo sobre tela, 99 x 82 cm





Minutos de sabedoria: Schopenhauer

9 08 2015

 

 

Caspar_David_Friedrich_-_Wanderer_above_the_sea_of_fogO viajante sobre um mar de nuvens, 1818

Caspar David Friedrich (Alemanha, 1774-1840)

óleo sobre tela, 98 x 74 cm

Kunsthalle Hamburgo, Alemanha

 

 

“Quem não ama a solidão, não ama a liberdade.”

 

schopenhauerSchopenhauer (1788-1860)




Os pampas, texto de José de Alencar

10 03 2012

Gaúcho na campanha, s/d

José Lutzenberger (Alemanha 1882- Brasil 1951)

aquarela sobre papel, 21 x 29 cm

Museu Ado Malogoli, Porto Alegre.

Os pampas

José de Alencar

“Ao por do sol perde o pampa os toques ardentes da luz meridional. As grandes sombras que não interceptam montes nem selvas, desdobram-se lentamente pelo campo fora.  É então que se assenta perfeitamente na imensa planície o nome castelhano.  A savana figura realmente um vasto lençol desfraldado por sobre a terra, velando a virgem natureza americana.

Essa fisionomia crepuscular do deserto é suave nos primeiros momentos; mas logo ressumbra tão funda tristeza que estringe a alma.  Parece que o vasto e imenso orbe cerra-se e vai minguando a ponto de espremer o coração.

Cada região da terra tem uma alma sua, raio criador que lhe imprime o cunho de originalidade. A natureza infiltra em todos os seres que ela gera e nutre aquela seiva própria; e forma uma família na grande sociedade universal.

Quantos seres habitam as estepes americanas, seja homem, animal ou planta, inspira nelas uma alma pampa.  Tem grandes virtudes essa alma. A coragem, a sobriedade, a rapidez são indígenas da savana.

No seio dessa profunda solidão, onde não há guarida para defesa, nem sombra para abrigo, é preciso afrontar o deserto com intrepidez, e sofrer as privações com paciência e suprimir as distâncias pela velocidade.

Até a árvore solitária que se ergue no meio dos pampas é tipo dessas virtudes.  Seu aspecto tem o  quer seja de arrojado e destemido; naquele tronco derreado, naqueles galhos convulsos, na folhagem desgrenhada, há uma atitude atlética. Logo se conhece que a árvore já lutou com o pampeiro e o venceu.  Uma terra seca e poucos orvalhos bastam à sua nutrição.  A árvore é sóbria e feita às inclemências do sol abrasador.  Veio de longe a semente; trouxe-a o tufão nas asas e atirou-a ali, onde medrou. É uma planta imigrante.

Como a árvore são a ema, o touro, o corcel, todos os filhos bravios da savana. Nenhum ente, porém, inspira mais energicamente a alma pampa do que o homem, o gaúcho. De cada ser que povoa o deserto toma ele o melhor; tem a velocidade de ema ou da corça, os brios do corcel e a veemência do touro.  O coração fê-lo a natureza franco e descortinado como a vasta cochilha; a paixão que o agita lembra os ímpetos do furacão, o mesmo bramido, a mesma pujança.  A esse turbilhão de sentimentos era indispensável uma amplitude de coração imensa como a savana.”





Boavista Sport Club: exemplo de gerenciamento para o futebol e para as artes

22 02 2011
Margarida e Donald vão a uma vernissage em Patópolis, ilustração Walt Disney.

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Meu primeiro emprego fora da sala de aula — diretora de uma galeria de arte, num centro cultural, uma ONG, nos EUA —  foi uma marco positivo na  minha vida profissional.  Nos quase 4 anos que fiquei por lá, aprendi muito sobre gerenciamento de projetos artísticos, coisa que nenhum dos cursos de graduação ou de pós havia pensado em me ensinar, por anos e anos.  Adorei.  Só saí de lá, porque fui morar na Argélia.  Mas nesse período eu, a galeria e a ONG ganhamos com as nossas diferenças, eu mais do que eles…

O objetivo da galeria era fazer a primeira exposição SOLO de um artista plástico que estivesse em início de carreira, mas que já estivesse a caminho de uma vida auto-suficiente nas artes.   A galeria não era o foco principal desse centro cultural, que também tinha um auditório para 120 pessoas, shows nos fins de semana, de música, principalmente jazz em suas inúmeras variações; uma companhia de teatro, formada por alunos e professores de teatro nas nossas próprias salas de aula; um laboratório de fotografia e cursos de fotografia (antes das fotos digitais); cursos de pintura a óleo, aquarela, desenho; cursos de música: violão e piano;  curso de jóias em prata e ouro; curso de encadernação de livros; cursos para a 3ª idade, das mais variadas matérias; e uma série de conferências às terças à noite de tirar o fôlego.  É claro tínhamos um bom bar e uma lojinha-boutique de presentes, não seria EUA sem essa última.

Localizados numa cidade universitária de 400.000 pessoas contando com os alunos,  a meio caminho entre Nova York e Miami, o centro cultural era onde músicos se apresentavam de maneira íntima, quando em turnês.  Pequeno, liberal, criativo o centro cultural era estimado pelos artistas por sua concepção informal e por facilitar uma apresentação, além de um dinheirinho,  nas viagens entre o norte e o sul do país.  Funcionávamos quase 24 horas por dia, porque precisávamos pagar salários, fazer manutenção diária de limpeza das instalações à pintura de paredes, promover os eventos.   A manutenção estava entre os nossos maiores gastos, e além das pessoas pagas, todos nós ajudávamos.  Era essencial: ninguém gasta dinheiro num show ou numa peça de teatro, ninguém compra uma obra de arte ou passa horas-dias num curso  num lugar emporcalhado, sem trato.

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Pateta faz a limpeza do sótão de sua casa, ilustração Walt Disney.

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E precisávamos aumentar a renda sempre.  Isso porque queríamos expandir, melhorar a nossa programação, continuar vivos.   Um grupo criativo sempre aparece com novas idéias do que fazer.  O problema é: como? e com que dinheiro?   Tínhamos algumas fontes de renda essenciais vindas de organizações filantrópicas, e doação em dinheiro ou em materiais de companhias nacionais, locais e de indivíduos.  A importância de fontes de renda de organizações filantrópicas era tão grande que havia uma pessoa paga pela ONG o ano inteiro para competir — por 365 dias, 24 horas, 7 dias por semana – pelo apoio dessas instituições, preenchendo papelada para competição de bolsas governamentais ou daquelas oferecidas por fundações.  Tínhamos também um contador que – porque eu estava sempre do lado que gastava — me parecia um capataz de fazenda cafeeira, que com o chicote na mão: não deixava nada sair do controle, nem por um único mês.  Qualquer projeto que fizéssemos tinha que responder às perguntas iniciais: Quem? O quê? Quando?  Quanto se gasta?  Lucro estava sempre à vista.  Sim, tínhamos que ter lucro.  Éramos uma organização não-lucrativa, mas isso não quer dizer que não iríamos ter lucro para pagar pelos nossos gastos.  Só porque éramos uma ONG, não justificava que se tivesse a intenção de perpetuamente depender do dinheiro alheiro.  Na verdade, a maioria das instituições filantrópicas que nos sustentavam, requeriam que pudéssemos provar que tínhamos condições de nos sustentar.  Senão, não nos dariam apoio.

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Tio Patinhas toma um banho de dinheiro revigorante, ilustração Walt Disney.

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Lembrei-me dessa época, no sábado, 19 de fevereiro, quando li no jornal O GLOBO, caderno de Esportes, o artigo de Carlos Eduardo Mansur — Boavista, um produto em exposição. [não achei o artigo na internet, ainda que o jornal tenha uma versão virtual.] Mansur comenta que o Boavista – que disputará com o Flamengo o título pelo Campeonato Carioca de 2011 —   é um time pequeno que tem surpreendido a todos.  Mansur lembra que o time é diferente dos demais por ter como objetivo a venda de jogadores, por isso, fazer uma boa partida, mostrar a que vieram, está na pauta do projeto do clube.

O sucesso de qualquer empreendimento depende de se entender bem, seu principal objetivo. E depois, gerenciá-lo.  Isso feito, as forças do universo colaboram com você.  Por que a maioria dos empreendedores quando em palestras sobre abertura de negócios enfatiza que se escreva a META da empresa?   Porque ajuda seus donos a sempre se lembrarem do que é necessário ser feito, para não se perder o rumo.

O que o Boavista tem que parece diferente dos outros times cariocas?  É gerenciado como uma empresa que precisa ganhar dinheiro: a Big Ball.  Esta empresa, que controla o time desde 2004, é formada por 3 investidores.  A exemplo de muitos times europeus, a Big Ball gerencia os  profissionais do futebol,  paga seus salários em dia, e investe no bem estar de seu maior patrimônio: o jogador.

É impossível saber através do artigo se Carlos Eduardo Mansur aprova esse sistema.  Seus parágrafos iniciais deixam dúvida:

Quem lançar um olhar objetivo, prático, despido de romantismo, poderá concluir que a chegada do Boavista à semifinal da Taça Guanabara consagra um momento empresarial de fazer futebol.  Um olhar purista talvez reprove uma organização em que o resultado meramente esportivo não é o propósito final.  Seja qual for a corrente de pensamento, uma coisa é certa.  No Boavista, não há rodeios...”

Ora, ora, o futebol, assim como as artes plásticas, é um grande negócio.  O romantismo não cabe na gerência de qualquer um desses empreendimentos.   No futebol, deixemos o romantismo para os torcedores, nas artes ele fica com os compradores.  O erro está em pensar o contrário.

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Pateta joga uma pelada, ilustração Walt Disney.

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Vamos “dar uma espiadinha” nos nossos preconceitos.  Historicamente, em terras lusitanas, quem podia lucrar, fazer dinheiro, eram os nobres e o rei.  Por idiossincrasia, esses não podiam mostrar que se interessavam por ele; nem mesmo levavam uma moeda, que fosse,  consigo mesmos.  Fora eles, quem fazia dinheiro eram os que o emprestavam aos nobres e ao rei, com juros: os judeus, párias da sociedade, mas indispensáveis.  Essa premissa nos levou a considerar – entre outros parâmetros de origem religiosa – que o dinheiro não só era sujo como não deveria estar envolvido com aquilo que realmente amamos.  Puxa, que carma!

Assim, o futebol, por atrair as nossas paixões, não precisa ser levado a sério a ponto de pagar seus jogadores em dia, de requerer um comportamento socialmente responsável de seus ídolos.  Que não paga, não tem moral para exigir nada.  Exemplos abundam à nossa volta de times que são irresponsáveis com seus caixas.  Nas artes, vemos pretensos centros culturais – mantidos com dinheiro alheio — entregues às goteiras, às moscas, aos ratos, porque “denigre” as artes, a preocupação com o dinheiro.  Em ambos os casos a porta para a falcatrua, para o mal gerenciamento, para a pobreza de espírito, para as panelinhas  fica entreaberta, senão escancarada.

Teremos dado um grande passo para o desenvolvimento cultural no Brasil, quando considerarmos nossas organizações artísticas, a exemplo do Boavista Sport Club, um empreendimento que pelo menos seja auto-sustentável.

©Ladyce West, 2011





5 livros do romantismo IV: A escrava Isaura

28 06 2009

Eliseu Visconti, moça no trigal,1913,ost,65x80

Moça no trigal, 1913

Eliseu Visconti ( 1866-1944 )

Óleo sobre tela, 65 x 80 cm

Como postei no dia 3 de maio estou elaborando algumas notas sobre as excelentes informações do Professor Vanderlei Vicente  sobre os 5 livros do romantismo necessários para o vestibular, publicado no Portal Terra.  Meu objetivo é ajudar aqueles que precisam destas leituras: não só a entenderem  um pouquinho mais do romantismo no Brasil, mas conseguirem se lembrar de alguns detalhes das obras mencionadas. O artigo original estará sempre em itálico azul. 

A Escrava Isaura (1875), de Bernardo Guimarães – “Este romance apresenta a trajetória de Isaura, escrava paradoxalmente clara que é perseguida por seu senhor, Leôncio. Após fugir para o Nordeste, Isaura conhece e apaixona-se por Álvaro. O desfecho do romance é mais que feliz: Álvaro liberta Isaura das mãos de Leôncio ao pagar dívidas deste e tomar-lhe os bens. Vale lembrar que a obra obteve importância em sua trajetória por tratar de um tema polêmico para a época: a escravidão”.

 Até hoje, este é um dos romances favoritos do público brasileiro.  Seu sucesso atual não surpreenderia aqueles que testemunharam em 1875 a estrondosa reação do público leitor que se encontrava cada vez mais familiarizado com romances de aventuras num cenário brasileiro. 

 

Carapebus

Solar do Barão de Carapebus, construído em 1846 em Campos dos Goitacazes.  Esta construção seria do tipo de fazenda em Campos, retratado no romance de Bernardo Guimarães. 

A história se passa numa grande fazenda fluminense na cidade de Campos dos Goitacazes.  O romance aparece quatro anos depois da Lei do Ventre Livre.  A escravidão serve mais como impedimento no desenvolvimento do romance, do que como assunto a ser abordado contra ou a favor.  Bernardo Guimarães, joga com a aceitação da mulher de pele clara, como demonstração do preconceito de raça.  Enquanto que a escravidão simplesmente existe.  Há algumas poucas falas de estudantes abolicionistas, mas não são mais do que um aceno, uma batida na aba do chapéu, que Bernardo Guimarães dá ao movimento abolicionista.  A divisão da sociedade, a mostra da irracionalidade da escravidão, estão centradas na cor da pele da escrava.  Bernardo Guimarães remove a  máscara da sociedade brasileira e mostra a falsidade de seus preconceitos.  Realça a fragilidade e a dualidade da posição pró-escravidão, numa sociedade que já se caracterizava como miscigenada.

 Há, no entanto, uma grande novidade:  os cenários do romance não são estáticos.  O leitor correrá o Brasil seguindo o caminho de Isaura, o romance começa na cidade de Campos dos Goitacazes, mas sua linha de ação se move, do Estado do Rio de Janeiro para Recife, no estado de Pernambuco.   

recife-rua victoria, 1890

Recife em 1890, rua Vitória, com bonde puxado a uma parelha de burros.

Bernardo Guimarães é um escritor da chamada segunda geração do Romantismo, e se olharmos com cuidado os textos de seus livros, encontraremos um pendor por algumas características que viriam a aparecer nos escritores do movimento realista, principalmente no retrato da miscigenação da sociedade brasileira e também no retrato do homem e dos costumes sertanejos.

 Também é um escritor com  um grande número de anedotas associadas à sua vida.  A maioria das quais puras inverdades mas que serviam para acentuar algumas de suas mais famosas características e o peculiar de modo de encarar a vida.  Reproduzo aqui duas anedotas encontradas num artigo de Armelim Guimarães, neto do escritor.

 1 –  Em 1925, nas suas “Memórias de João Barriga”, José Avelino registrava este caso, de quando era o poeta professor no liceu de Ouro Preto:

“Examinador, a todos aprovava. Conta-se que, numa feita, um bicho [estudante calouro] estava tão cru em noções de Cosmografia que a reprovação seria inevitável no exame oral. Dois examinadores deram logo nota má, e Bernardo deu ótima. Perguntou-lhe um colega:

– Por que deu ótima, doutor, a um examinando que não soube o ponto?

— Porque eu também não sei.”

 

2 –  … vale lembrar um fato contado por Sousa Ataíde:

“Descia o poeta, certa vez, a rua de sua casa, em companhia de dois amigos, quanto, passando por eles três ou quatro pessoas que caminhavam em sentido contrário, uma delas perguntou-lhe:

– Saberá o cavalheiro informar-me onde mora o escritor Bernardo Guimarães?

“Eram pessoas que desejavam visitá-lo, e que ainda não conheciam. Bernardo, tranqüilamente, apontou a sua residência, e deu prontamente a informação pedida:

— É ali, naquele sobrado, ao alto.

“E continuou a descer  imperturbavelmente a ladeira. O Bretas espantou-se:

— Que é isso, homem! Eles querem te conhecer!

— Perguntaram-me onde eu moro. Dei, acaso, informação errada?, respondeu o poeta.”

 E ao que tudo indica, histórias engraçadas e anedotas diversas são até hoje contadas em Minas Gerias sobre este bem amado escritor mineiro.

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 A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães,  já se encontra em domínio público.  Para lê-lo, clique AQUI.

 

 

 

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Bernardo Joaquim da Silva Guimarães (Ouro Preto, MG, 15/8/1825 – Ouro Preto, MG, 10/3/1884). Advogado, juiz, professor, escritor, jornalista, contista e poeta. Bernardo Guimarães é o patrono da Cadeira N.º 5 da Academia Brasileira de Letras.

 

Obras:

Cantos da Solidão, poesia, 1852

Poesias, 1865

O Ermitão do Muquém, romance, 1871

Lendas e Romances, novelas, 1871

O Garimpeiro, romance, 1872

O Seminarista, romance, 1872

Histórias e tradições de Minas Gerais, 1872

O índio Afonso, romance, 1873

A Escrava Isaura, romance, 1875

Novas Poesias, 1876

Maurício, romance, 1877

A Ilha Maldita, romance, 1879

O Pão de Ouro, romance, 1879

Rosaura, a Enjeitada, romance, 1883

Fôlhas de Outono, poesia, 1883

O Bandido do Rio das Mortes, poesia, póstuma, 1905

O Elixir do Pajé, poesias eróticas, s/d impresso às escondidas, raríssimo.

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Eliseu D’Angelo Visconti (Salerno, Itália 1866 – Rio de Janeiro RJ 1944). Pintor, desenhista, professor. Vem com a família para o Rio de Janeiro, entre 1873 e 1875, e, em 1883, passa a estudar no Liceu de Artes e Ofícios, com Victor Meirelles (1832 – 1903) e Estêvão Silva (ca.1844 – 1891). No ano seguinte, sem deixar o Liceu, ingressa na Academia Imperial de Belas Artes – Aiba, tendo como professores Zeferino da Costa (1840 – 1915), Rodolfo Amoedo (1857 – 1941), Henrique Bernardelli (1858 – 1936), Victor Meirelles e José Maria de Medeiros (1849 – 1925). Em 1888, abandona a Aiba para integrar o Ateliê Livre, que tem por objetivo atualizar o ensino tradicional. Com as mudanças ocorridas com a Proclamação da República, a Aiba transforma-se na Escola Nacional de Belas Artes – Enba. Visconti volta a freqüentá-la e recebe, em 1892, o prêmio de viagem ao exterior. Vai à Paris e ingressa na [i]École Nationale et Spéciale[/i] des Beaux-Arts [Escola Nacional e Especial de Belas Artes]; cursa arte decorativa na [i]École Guérin[/i], com Eugène Samuel Grasset (ca.1841 – 1917), um dos introdutores do Art Nouveau na França. Viaja à Madri, onde realiza cópias de Diego Velázquez (1599 – 1660), no Museo del Prado [Museu do Prado], e à Itália, onde estuda a pintura florentina. Em 1900, regressa ao Brasil e, no ano seguinte, expõe pela primeira vez na Enba. Executa o ex-libris para a Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, e vence o concurso para selos postais e cartas-bilhetes, em 1904. Em 1905 é convidado pelo prefeito da cidade, engenheiro Pereira Passos, para realizar painéis para a decoração do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Entre 1908 e 1913, é professor de pintura na Enba, cargo a que renuncia por descontentamento com as normas do ensino. Retorna à Europa para realizar também, entre 1913 e 1916, a decoração do foyer do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e só se fixa definitivamente no Brasil em 1920. Segundo alguns estudiosos, é considerado um praticante do Art Nouveau e do desenho industrial e gráfico no Brasil, com obras em cerâmica, tecidos e luminárias.

 Itaú Cultural





5 livros do Romantismo II: O Guarani

15 05 2009

peri e ceci, ilustração de Santa Rosa, O Guarani, RJ, José Olympio,1955Peri e Ceci, ilustração de Santa Rosa, O Guarani, Rio de Janeiro, José Olympio: 1955.

 

Como postei no dia 3 de maio estou elaborando algumas notas sobres as excelentes informações do Professor Vanderlei Vicente  sobre os 5 livros do romantismo necessários para o vestibular, publicado no Portal Terra.  Meu objetivo é ajudar aqueles que precisam destas leituras: não só a entenderem  um pouquinho mais do romantismo no Brasil, mas conseguirem se lembrar de alguns detalhes das obras mencionadas. O artigo original estará sempre em itálico azul. 

 

O Guarani (1857), de José de Alencar – “Este é o primeiro romance de temática indianista publicado pelo autor, que estabelece uma visão idealizada sobre a formação do povo brasileiro através do índio Peri e da portuguesa Cecília. A idealização do indígena fica evidente nas ações de Peri, que, em certo momento da obra, chega a oferecer-se para o sacrifício para salvar sua amada Ceci. No final do romance, a permanência de Ceci com Peri na selva dá um caráter fundador ao texto”.

O guarani, 1a edição, 1857

O romance O Guarani foi o segundo romance publicado por José de Alencar.  Foi originalmente publicado em capítulos, em folhetim para o Diário do Rio de Janeiro entre 1º de janeiro e 20 de abril de 1857.    Em geral esses romances publicados em folhetins  eram traduções de romances de origem inglesa, como as histórias medievais de Walter Scott, ou edições francesas, como as aventuras dos Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas.  Foi com essas publicações em capítulos, que a partir de 1830, um maior número de brasileiros começou a se familiarizar com o mundo da literatura de ficção, em veredas diferentes daquelas já exploradas pelos portugueses.   Assim, brasileiros acompanharam as aventuras de Ivanhoé ou de D’Artagnan e foram apresentados ao romance histórico, ou seja ao romance que detalhava as aventuras de  seus heróis em eras do passado.

Qual não foi a alegria dos leitores dos diários brasileiros de descobrirem que havia um autor brasileiro, muito bom, que também se dedicava à escrita do romance histórico!   E ainda, um romance histórico brasileiro!  Graças à imaginação de José de Alencar e também à sua indiscutível habilidade narrativa, O Guarani em capítulos, proporcionou aos brasileiros, pela a primeira vez, um passatempo em que, como um todo, a sociedade teve a oportunidade de pensar, fantasiar, considerar e discutir sobre a vida no Brasil de 300 anos antes; a vida dos colonizadores portugueses vivendo em 1604.  A revolução cultural deste evento foi enorme.    

 

jose de alencar

José de Alencar, autor de O Guarani.

 

José de Alencar não foi o primeiro escritor brasileiro a publicar seus romances em folhetins.  Três outros autores já o haviam precedido: Teixeira e Sousa, 1843 com  O Filho do Pescador; Joaquim Manuel de Macedo,  com A Moreninha, o primeiro romance nacional, e Manuel Antônio de Almeida que aos 22 anos, publica o seu As suas Memórias de um Sargento de Milícias um livro de aventuras cômicas da vida no Rio de Janeiro no tempo de D. João.  

Em O Guarani, um romance com 54 capítulos divididos em 4 partes: Os Aventureiros, Peri, Os Aimorés e A Catástrofe; leitor é colocado diante de aventuras constantes, que o deixavam em suspense na leitura de um capítulo para o outro, assim mesmo como acontece hoje em dia nas novelas televisivas.   Um romance histórico indianista, que se desenrola na época em que o Brasil estava sob o domínio espanhol [1604], compreende a conquista do sertão brasileiro,  o  confronto de raças e de culturas [européia e indígena],  a imposição do cristianismo,  a assimilação do selvagem na cultura dominante e muito especificamente a idealização da natureza.  

 

 

cascata conde D'Eu

Cascata do Conde D’Eu, no Rio Paquequer, no estado do Rio de Janeiro, uma das localizações descritas em O Guarani.

 

CAPÍTULO I

 

 

Cenário

 

 

De um dos cabeços da Serra dos Órgãos desliza um fio d’ água que se dirige para o norte e engrossado com os mananciais, que recebe no seu curso de dez léguas, torna-se rio caudal.

 

É o Paquequer: saltando de cascata em cascata, enroscando-se como uma serpente, vai depois se espreguiçar e se enroscar na várzea e embeber no Paraíba, que rola majestosamente em seu vasto leito.

 

Dir-se-ia que vassalo e tributário desse rei das águas, o pequeno rio altivo e sobranceiro contra os rochedos, curva-se humildemente aos pés do suserano.  Perde então a beleza selvática; suas ondas são calmas e serenas como as de um lago, e não se revoltam contra os barcos e canos que resvalam sobre elas: escravo submisso, sofre o látego do senhor.

 

Não neste lugar que ele deve ser visto; sim três ou quatro léguas acima de sua foz, onde é livre ainda, como filho indômito desta pátria da liberdade.

 

Aí, o Paquequer lança-se rápido sobre o seu leito, e atravessa as florestas como o tapir, espumando, deixando o pelo esparso pelas pontas de rochedo e enchendo a solidão com o estampido de sua carreira.  De repente, falta-lhe o espaço, foge-lhe a terra; o soberbo rio recua um momento para concentrar suas forças e precipita-se de um só arremesso, somo um tigre sobre a presa.

 

Depois, fatigado do esforço supremo, se estende sobre a terra, e adormece numa linda bacia que a natureza formou, e onde o recebe como em um leito de noiva, sob as cortinas de trepadeiras e flores agrestes.  

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Este Rio Paquequer, existe?

O Rio Paquequer nasce no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no estado do Rio de Janeiro e sua bacia cobre uma área aproximada de 290 Km2.  A Cascata do Conde D’ Eu, descrita nas páginas de O Guarani, é a mais alta queda d’ água do estado.  O peso do enorme volume de água em queda livre formou, ao longo dos séculos, uma garganta na parte inferior — um poço com 30 metros de diâmetro — de águas limpas, transparentes e de temperatura fria.  Essa queda d’ água está permanentemente envolvida numa nuvem de partículas de água, que a tornam ainda mais sedutora, que alcançam a altura de 150 m.  É uma das grandes belezas naturais do  estado do Rio de Janeiro. 

 

José de Alencar, estátua, foto de andrepcgeo, Flickr

Estátua de José de Alencar, na Praça José de Alencar no Flamengo, RJ.

 

Qual era a opinião de Machado de Assis sobre José de Alencar?

Machado de Assis teve diversas oportunidades de mostrar sua admiração pelo autor de O Guarani.  Recorto aqui um trecho de suas palavras:

 

No romance que foi a sua forma por excelência, a primeira narrativa, curta e simples, mal se espaçou da segunda e da terceira.  Em três saltos estava O Guarani  diante de nós, e daí  veio a sucessão crescente de força, de esplendor, de variedade.  O espírito de Alencar percorreu as diversas partes de nossa terra, o norte e o sul, a cidade e o sertão, a mata e o pampa, fixando-as em suas páginas, compondo assim com as diferenças da vida, das zonas e dos tempos a unidade nacional da sua obra.

 

Nenhum escritor teve em mais alto grau a alma brasileira. E não é só porque houvesse tratado assuntos nossos.  Há um modo de ver e sentir, que dá a nota íntima da nacionalidade, independente da face externa das coisas.  O mais francês dos trágicos franceses é Racine, que só fez falar a antigos.  Schiller é sempre alemão, quando recompões Felipe II e Joana D’ Arc.  O nosso Alencar juntava a esse dom a natureza dos assuntos tirados da vida ambiente e da história local.  Outros o fizeram também, mas a expressão do seu gênio era mais vigorosa, e mais íntima.  A imaginação que sobrepujava nele o espírito de análise, dava a tudo o calor dos trópicos e as galas viçosas de nossa terra. O talento descritivo, a riqueza, o mimo e a originalidade do estilo completavam a sua fisionomia literária.  

 

Machado de Assis, Discurso proferido na cerimônia do lançamento da primeira pedra da estátua de José de Alencar.  

 

A terra com suas belezas não é o único ponto de idealização no romance de Alencar.  Peri, nosso herói, cujo nome em guarani significa junco silvestre, era da tribo dos índios goitacazeses, honrados nos dias de hoje pelo nome da cidade fluminense: Campos dos Goytacazes.  Peri luta contra os aimorés, contra o homem branco e até contra os elementos naturais,  para agradar e salvar sua Cecília, filha de um nobre português.

 

 

Quem eram os Goitacazes?

 

Os Goitacazes foram um grupo indígena, hoje extinto, que habitava no século XVI a região costeira entre o rio São Mateus, no Espírito Santo e a foz do rio Paraíba, no Rio de Janeiro.   “Goitacaz quer dizer corredor, nadador ou caranguejo grande comedor de gentes.  Fisicamente possuíam pele mais clara, eram mais altos e robustos que os demais índios do litoral. Considerados muito perigosos entre outras características, por sua extraordinária força.

 

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Índio Goytacaz, ilustração no livro Capitães do Brasil, de Eduardo Bueno, Rio de Janeiro, Objetiva:2006, 2a edição.

 

Há 3 contemporâneos das aventuras de Peri e Ceci, cujas descrições dos índios goitacazes mostram como eram violentos.   E como deveriam ter sido inimigos de grande periculosidade.  Aqui estão essas passagens, encontradas no livro de Eduardo Bueno:

De acordo com o relato de frei Vicente do Salvador (1564-1639), os Goitacá mais pareciam ” homens anfíbios do que terrestres”, que nenhum branco era capaz de capturar, pois “ao se verem acossados, metem-se dentro das lagoas, onde ninguém os alcança, seja a pé, de barco ou a cavalo. ”  Ainda conforme frei Vicente, os Goitacá eram capazes de capturar peixes ” a braço, mesmo que sejam tubarões, para os quais levam um pau que lhes metem na boca aberta, que não a pode cerrar com o pau, com a outra mão lhe tiram por ela as entranhas, e com elas a vida, e o levam para terra, não tanto para os comerem, como para dos dentes fazerem as pontas de suas flechas, que são peçonhentas e mortíferas”.

Se não comiam tubarões, os Goitacá eram, segundo o francês Jean de Léry (1534-1611),  “grandes apreciadores da carne humana que comem por mantimento e não por vingança  ou pela antiguidade de seus ódios”.  Para Léry, a tribo deveria ser considerada a mais bárbara, cruel e indomável da Nações do Novo Mundo: selvagens estranhos e ferozes, que não só não conseguem viver em paz entre si como mantêm guerra permanente contra seus vizinhos e contra estrangeiros.

Embora rival de Léry, o cosmógrafo André Thevet ( 1502-1592) confirma o relato de seu desafeto.  Thevet afirmou que, após capturar um inimigo, os Goitacá “imediatamente trucidam e o comem seus pedaços quase crus, como fazem com outras carnes”.

Em: Capitães do Brasil, Eduardo Bueno, Rio de Janeiro, Objetiva:2006, páginas 106 e 107.

O Guarani, a ópera

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Cartaz para a apresentação da ópera do compositor brasileiro Carlos Gomes, inspirada pelo romance do mesmo nome do escritor José de Alencar.

Quem já ouviu a introdução musical do programa de rádio, nacional, A Voz do Brasil, conhece também os primeiros acordes da introdução da  ópera em 4 atos, O Guarani de Carlos Gomes, que estreou em 19/3/1870 no teatro Scala de Milão, Itália, fazendo um grandioso sucesso.

A obra O Guarani de José de Alencar está em domínio público, para obter o texto original, clique AQUI.





5 livros do Romantismo I: A Moreninha

3 05 2009

 

 

 

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Moça com chapéu de palha, s/d

Haydéa Santiago (Brasil, 1896-1981)

Óleo sobre tela colado em madeira

28 x 29 cm

Coleção Particular

 

 

 

 

Pelas próximas postagens colocarei algumas informações sobre 5 livros mencionados pelo Prof. Vanderlei Vicente no Portal Terra,  como leituras que ajudam a entender o romantismo no Brasil e leitura essencial para quem está para fazer o vestibular.  O artigo original estará sempre em itálico azul. 

 

Entre os principais conteúdos cobrados nas provas de Literatura dos vestibulares do País, se destaca o Romantismo. O movimento, que se desenvolveu na Europa na virada dos séculos XVIII para XIX, teve início no Brasil no ano de 1836, com a publicação de Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães.

 

Para o professor Vanderlei Vicente, dos cursos Unificado e PV Sinos, o vestibulando deve ter em mente algumas características da escola, como a idealização das relações e do caráter humano, o sentimentalismo exacerbado e, no Brasil, uma presença marcante do elemento indígena. O professor selecionou cinco dos principais romances do período, para ajudar a compreender a prosa romântica na literatura brasileira:

 

A Moreninha (1844), de Joaquim Manuel de Macedo – “Este romance merece atenção do estudante, por ser considerado o primeiro romance romântico brasileiro. Na obra, Augusto sente-se preso a uma promessa de amor feita anos atrás, o que o torna inconstante frente a outras possibilidades de relacionamento. Ao se apaixonar por Carolina, ele tem a doce surpresa: ela era a menina com quem havia trocado juras de amor no passado e que considerava digna de seu amor”.

 

 

 

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O romance A Moreninha foi publicado no mesmo ano em que Joaquim Manuel de Macedo se formou em Medicina [1844] e se passa no Estado do Rio de Janeiro.  O autor nunca menciona o local em que se passa, exceto pela expressão:  Ilha de…  Desde o século XIX no entanto que a Ilha de Paquetá, principal ilha do arquipélago de Paquetá na Baía de Guanabara, localizada a 15 km do centro histórico da cidade do Rio de Janeiro, é associada com este romance.  O nome Paquetá, de origem indígena significa “lugar com muitas pacas”.    A ilha foi descoberta por André Thevet da expedição de Villegagnon em 1555, quando a França tentava instituir no Rio de Janeiro a França Antártica.  A partir de 1838 a ilha esteve ligada ao Rio de Janeiro por uma linha regular de barcas, estabelecida pela preferência da corte portuguesa, D. João VI em particular, por passeios no lugar.   Com este tipo de clientela e depois do sucesso do romance de Joaquim Manuel de Macedo, a ilha passou a  se tornar um local de atividade turística e aos poucos, através dos anos foi perdendo sua atividade de abastecedora de peixes e mariscos para a cidade do Rio de Janeiro e dedicar-se exclusivamente ao turismo.

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Ilha de Paquetá, s/d

Benedito Calixto ( Brasil 1853-1927)

Guache,  17 x 22 cm

 

 

Paquetá tem algumas pedras famosas entre suas pequenas e paradisíacas praias.  A Pedra da Moreninha, no final da Praia da Moreninha, figura com destaque na história de Joaquim Manuel de Macedo “A moreninha”, como local onde a Moreninha esperava pela volta de seu namorado.

 Hoje há nesta ilha uma escola  e uma rua com o nome de Joaquim Manuel de Macedo, uma praia e uma pedra Moreninha que acredita-se ser onde Carolina esperava a barca trazendo o seu amado.

 

Pedra da Moreninha.  Foto: Flávio Freitas, Flickr

Pedra da Moreninha. Foto: Flávio Freitas, Flickr

 

 Como era a Moreninha? 

Carolina é uma das mais cativantes heroínas brasileiras do século XIX.  Ela é uma adolescente de 14 ou 15 anos , muito alegre e espevitada, levando muito pouca coisa a sério.  Ela é descrita no romance como um beija-flor, mudando de posição e de paragem a qualquer momento: irriequieta e usando sua  língua ferina quando não faz caretas para o irmão Filipe.

 

O que é um breve, ou o que é O breve da Moreninha?

 No romance A Moreninha,  há um objeto valorizado muito importante que estava ao alcance de todos no século XIX : o BREVE.

 O breve é um saquinho, em geral feito de linho branco, cortado em forma ciecular, onde se coloca um talismã, ou geral,  uma reza poderosa, em que colocamos nossas esperanças.   Depois dessas rezas colocadas no centro do círculo de linho, fecha-se o tecido prendendo-o pelas bordas.  Amarra-se então o breve ao  pescoço com uma fita.  Deve-se usar o breve no pescoço, próximo ao coração.     Mais tarde, no século XIX, o breve foi aos poucos modificado numa pequena caixinha , em geral de material nobre ( ouro, prata, banho de ouro) onde guardava-se não só as rezas, mas sobretudo um cachinho do cabelo do amado, ou outra lembrança que ajudava na simpatia de manter esta pessoa sempre em nosso poder.  Eles também eram pendurados ao pescoço.   Ainda hoje é usado, por dentro da roupa, como uma simpatia para “amarrar uma pessoa”.  Em geral dependura-se o breve no pescoço de uma fita de cetim, mas há alguns que dependuram o breve no pulso, como uma pulseira.  Houve no final do século XX um retorno ao uso de breves por aqueles que se vestem ao gosto gótico.

BREVE = A palavra Breviário, muito usada para os livros de oração, frequentemente pintados com iluminuras, usados pelas senhoras na idade média, tem a mesma origem que o breve.

 

CAPÍTULO VI

— …………………

 

Quando as ordens do ancião foram completamente executadas, ele tomou os dois breves e, dando-me o de cor branca, disse-me:

 

— Tomai este breve, cuja cor exprime a candura da alma daquela menina. Ele contém o vosso camafeu: se tendes bastante força para ser constante e amar para sempre aquele belo anjo, dai-lho a fim de que ela o guarde com desvelo.

 

Eu mal compreendi o que o velho queria: ainda maquinalmente entreguei o breve à linda menina, que o prendeu no cordão de ouro que trazia ao pescoço.

 

Chegou a vez dela. O homem deu-lhe o outro breve, dizendo:

 

— Tomai este breve, cuja cor exprime as esperanças do coração daquele menino. Ele contém a vossa esmeralda: se tendes bastante força para ser constante e amar para sempre aquele bom anjo, dai-lho, a fim de que ele o guarde com desvelo.

 

Minha bela mulher executou a insinuação do velho com prontidão, e eu prendi o breve ao meu pescoço, com uma fita que me deram.

 

Quando tudo isto estava feito, o velho prosseguiu ainda:

 

— Ide, meus meninos; crescei e sede felizes! Vós olhastes para mim, pobre e miserável, e Deus olhará para vós… Ah! Recebei a bênção de um moribundo!… Recebei-a e sai para não vê-lo expirar!

 

Isto dizendo, apertou nossas mãos com força: eu senti, então, que o velho ardia; senti que seu bafo era como vapor de água fervendo, que sua mão era uma brasa que queimava… Sinto ainda sobre os meus dedos o calor abrasador dos seus e agora compreendo que, com efeito, ele delirava quando assim praticou com duas crianças.

 

 — ………

 

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Foto de um breve, século XIX

 

 

E A Moreninha existiu?   Supõe-se que a verdadeira identidade da moreninha é Maria Catarina de Abreu Sodré, com  quem Joaquim Manuel de Macedo se casou depois de 10 anos de namoro.  D. Maria Catarina era prima-irmã do poeta Álvares de Azevedo (1832-1879). Ela era filha única. 

 

 joaquim-manuel-de-macedo

 

Joaquim Manuel de Macedo (Itaboraí, 24 de junho de 1820 — Rio de Janeiro, 11 de abril de 1882) foi um médico e escritor brasileiro: romancista, poeta, cronista literário e dramaturgo.

 

Em 1844, Joaquim Manuel de Macedo, formou-se em Medicina no Rio de Janeiro, e no mesmo ano estreou na literatura com a publicação daquele que viria a ser seu romance mais conhecido, “A Moreninha“, que lhe deu fama e fortuna imediatas.

 

Além de médico, Macedo foi jornalista, professor de Geografia e História do Brasil no Colégio Pedro II, e sócio fundador, secretário e orador do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, desde 1845. Em 1849, fundou, juntamente com Gonçalves Dias e Araújo Porto-Alegre, a revista Guanabara, que publicou grande parte do seu poema-romance A nebulosa — considerado por críticos como um dos melhores do Romantismo. Foi membro do Conselho Diretor da Instrução Pública da Corte (1866).

 

Abandonou a medicina e criou uma forte ligação com Dom Pedro II e com a Família Imperial Brasileira, chegando a ser preceptor e professor dos filhos da Princesa Isabel.

 

Macedo também atuou decisivamente na política, tendo militado no Partido Liberal, servindo-o com lealdade e firmeza de princípios, como o provam seus discursos parlamentares, conforme relatos da época. Durante a sua militância política foi deputado provincial (1850, 1853, 1854-59) e deputado geral (1864-1868 e 1873-1881). Nos últimos anos de vida padeceu de problemas mentais, morrendo pouco antes de completar 62 anos.

 

Obras:

Romances

 

A Moreninha (1844)

O moço loiro (1845)

Os dois amores (1848)

Rosa (1849)

Vicentina (1853)

O forasteiro (1855)

O culto do dever (1865)

Rio do Quarto (1869)

A luneta mágica (1869)

As Vítimas-algozes (1869)

Nina (1869)

A namoradeira (1870)

As mulheres de mantilha (1870-1871)

Um noivo e duas noivas (1871)

A Misteriosa (1872)

A Baronesa do Amor (1876)

Romance de uma velha

Uma pupila rica

Amores de um Médico – póstumo –

 Sátiras políticas

A carteira do meu tio (1855)

Memórias do sobrinho do meu tio (1867-1868)

Dramas

O cego (1845)

Cobé (1849)

O sacrifício de Isaac (1859)

O novo Otelo (1863)

Lusbela (1863)

Vingança por vingança (1877)

A Torre em Concurso (1863)

Remissão de Pecados (1870)

Antonica da Silva (1873)

Vingança por Vingança (1877)

Comédias

O fantasma branco (1856)

O primo da Califórnia (1858)

Luxo e vaidade (1860)

Cincinato Quebra-louças (1873)

O macaco da vizinha (1885)

Poesia

 A nebulosa (1857)

Didáticos

 

Lições de História do Brasil,  (1861)

Noções de Corografia do Brasil, (1873)

Amor e Pátria

 

Ensaios/ Crônicas

Os Romances da Semana (1861)

Um Passeio pela Cidade do Rio de Janeiro (1862)

Ano Biográfico Brasileiro (1876)

Efemérides Históricas do Brasil e Mulheres Célebres (1878)

Todas as suas obras encontram-se em domínio público.  Para baixar o texto de grande parte delas, clique aqui.

 

J. M. de Macedo, Domínio Público