Palavras para lembrar — Napoleão Bonaparte

10 01 2014

Catherine Chauloux (França, 1957) a_la_recherche_des_mots In search of lost words.  Oil on canvas, 40x40 cmÀ procura de palavras perdidas, s/d

Cathérine Chauloux (França, 1957)

óleo sobre tela, 40 x 40 cm

www.catherinechauloux.fr

“Mostre-me uma família de leitores, e lhe mostrarei o povo que dirigirá o mundo”.

Napoleão Bonaparte





Veneza do século XIII: os primórdios do capitalismo e da globalização

9 01 2014

Marco Polo sailing from Venice in 1271, detail from an illuminated manuscript, c. 15th century; in the collection of the Bodleian Library, Oxford, Eng.Marco Polo saindo em navio de Veneza, em 1271.  Detalhe de iluminura de um manuscrito do século XV, na Biblioteca Bodleian, na Universidade de Oxford.

QUASE TODOS em Veneza dedicavam-se ao comércio. As viúvas investiam em atividades mercantis e qualquer jovem desprovido de meios podia intitular-se “mercador” simplesmente aventurando-se no negócio. Apesar dos riscos enormes, riquezas inimagináveis atraíam os mais arrojados, os empreendedores e os bobos. Fortunas surgiam e evaporavam da noite para o dia, e muitas fortunas familiares venezianas provinham do êxito de uma única expedição comercial a Constantinopla.

Os mercadores venezianos desenvolveram todo tipo de estratagema para lidar com mudanças bruscas em seu meio de vida, o comércio mundial. Na ausência de padrões para o câmbio, as diversas moedas em uso eram um pesadelo na hora da conversão. O Império Bizantino tinha os seus besantes, as terras árabes seus dracmas, Florença seus florins. Confiando na proporção entre ouro e prata numa moeda para determinar o seu valor, Veneza tentava acomodar todas. Mercadores como os Polo evitavam o difícil sistema monetário, com sua inevitável confusão e depreciação e negociavam, com gemas tais como rubis, safiras e pérolas.

Para resolver suas necessidades financeiras sofisticadas e exóticas a cidade desenvolveu o sistema bancário mais avançado na Europa Ocidental. Bancos de depósito do continente são originários de Veneza. Em 1156, a República de Veneza tornou-se o primeiro estado desde a Antiguidade a obter um empréstimo público. Ela também emitiu as primeiras leis bancárias da Europa, com o fim de regulamentar a nascente indústria bancária. Como resultado dessas inovações, Veneza dispunha das mais avançadas práticas de negócios da Europa.

Veneza adaptou os contratos romanos às necessidades dos mercadores que negociavam com o Oriente. Sofisticados contratos marítimos de empréstimo ou de troca estipulavam as obrigações entre armadores e mercadores inclusive faziam seguro – obrigatório em Veneza a partir de 1253. O tipo de acordo mais comum entre os mercadores era o comenda ou, no dialeto veneziano, collegantia, um contrato baseado em modelos antigos. Numa tradução aproximada, o termo significava “negócio de risco” e, mais que um conjunto de princípios legais consistentes, era um reflexo dos costumes prevalecentes no comércio. Apesar de esses contratos do século XII e XIII pareceram antiquados suas exigências de precisão contável são surpreendentemente modernas. Eles exprimiram e respaldaram uma forma rudimentar de capitalismo muito antes do surgimento do conceito.

Para os venezianos, o mundo era assombrosamente moderno de outra maneira: ele era “plano”, isto é, mundialmente ligado para além das fronteiras e dos limites, fossem estes naturais ou artificiais. Eles viam o mundo como uma rede de rotas comerciais e oportunidades constantemente em mutação que se estendiam por terra e mar. Por barco ou em caravanas, os mercadores venezianos viajavam aos quatro cantos do mundo em busca de especiarias, gemas e tecidos valiosos. Graças à sua iniciativa, minerais, sal, cera, remédios, cânfora, goma-arábica, mirra, sândalo, canela, noz-moscada, uvas, figos, romãs, tecidos (especialmente seda), peles, armas, marfim, lã, penas de avestruz e papagaio, pérolas, ferro, cobre, pó de ouro, barras de ouro,  barras de prata e escravos asiáticos chegavam à Veneza, provenientes da África, do Oriente Médio e da Europa Ocidental, por meio de complexas rotas comerciais.

Itens ainda mais exóticos chegavam à cidade a bordo de galés estrangeiras. Imensas colunas de mármores, pedestais, painéis e blocos, arrancados de templos ou edifícios em ruínas em Constantinopla ou alguma cidade grega ou egípcia, amontoavam-se no cais. Esses restos da antiguidade, lápides de civilizações mortas ou moribundas, terminavam em uma esquina qualquer da Piazza San Marco, ou na fachada de um palazzo ostentoso habitado por algum duque ou rico mercador.

A diversidade de mercadorias levou Shakespeare a comentar por meio da personagem Antônio em O Mercador de Veneza, que “o lucro e o comércio da cidade/dependem de todas as nações”. O comércio veneziano era sinônimo de globalização – outro conceito embrionário da época. Para estender seu alcance, os venezianos formavam parcerias com governos e mercadores distantes que desconsideravam as divisões raciais e religiosas. Árabes, judeus, turcos, gregos e, mais tarde, mongóis faziam parcerias comerciais com Veneza, mesmo quando pareciam ser seus inimigos políticos…

Em: Marco Polo: de Veneza a Xanadu, Laurence Bergreen, tradução Cristina Cavalcanti, Rio de Janeiro, Objetiva: 2009, pp 28-30.





Imagem de leitura — Louis Emile Pinel de Grandchamp

9 01 2014

Louis emile pinel de Grandchamp-emina souvenir do orienteRecordações do oriente

Louis Emile Pinel de Grandchamp (França, 1831-1894)

óleo sobre tela, 107 x 147cm





Hoje é dia de feira: frutas e legumes frescos

8 01 2014

Bonadei, Aldo (1906-1974)Natureza morta, 1966, osccp,39 x 28cmNatureza morta, 1966

Aldo Bonadei (1906-1974)

óleo sobre tela colado em papelão, 39 x 28 cm





Quadrinha do presente

8 01 2014

???????????????????????????????Cascão leva um presente, ilustração de Maurício de Sousa.

Se você der um presente,

esqueça logo o que deu;

mas traga sempre na mente

aquilo que recebeu.

(Adalzira Bittencourt)





Imagem de leitura — Ramón Araujo Armero

7 01 2014

Araujo Armero, Ramón (1957-...)  La lectura II, 2010Leitura II, 2010

Ramón Araujo Armero (Espanha, 1957)

óleo sobre tela, 73 x 92 cm





Nossas cidades — Mariana

6 01 2014

GEORGES WAMBACH - (Bélgica1901 -Brasil 1965)Ouro Preto - óleo sobre tela - 54 x 74 cm -Mariana, s/d

Georges Wambach (Bélgica 1901 – Brasil, 1965)

óleo sobre tela, 54 x 74 cm





O lago e a estrela, poesia de Luiz Guimarães

6 01 2014

ISABEL PONS (1912 - 2002 )Reflexo da lua, P.E. 35 x 22Reflexo da lua, s/d

Isabel Pons (Brasil, 1912-2002)

Gravura, 35 x 22cm

O lago e a estrela

Luiz Guimarães

Disse a vaidosa estrela quando viu

De um lago azul a débil transparência:

— Por que te deu a sábia providência

Um corpo tão monótono e sombrio?

Comigo teve Deus maior clemência

E do esplendor eterno me vestia!

Que vales, pois, ó lago humilde e frio,

Perto da minha deslumbrante essência?

Nos céus eu moro! O meu destino zomba

De ignota força que reparte as mágoas!

Tenho a ventura de desconhecê-la.

— Mas quando a noite vagarosa tomba

É no seio fiel das minhas águas

Que vens dormir, ó luminosa estrela!

Em: Poetas cariocas em quatrocentos anos, Frederico Trotta, Rio de Janeiro, Vecchi:1965, pp. 230-231.





Domingo, um passeio no campo!

5 01 2014

ABELARDO ZALUAR - (1924 - 1987)Paisagem - óleo sobre madeira - 12 x 16 cm - 1951Paisagem, 1951

Abelardo Zaluar (Brasil, 1924-1987)

óleo sobre madeira, 12 x 16 cm





Listas, metas e o Ano Novo

5 01 2014

Carrie Graber, Cool Chardonnay on a Sunny Patio by Carrie GraberChardonay refrescado no pátio ensolarado II

Carrie Graber (EUA, contemporânea)

óleo sobre tela, 35 x 45cm

www.paragonfineart.com


Sou dada a metas.  Elas delineiam a minha vida, mas não sou escrava delas.  Elas simplesmente me ajudam a fazer muitas coisas diferentes, ao mesmo tempo.  Devo a elas a organização à minha volta. É natural, portanto, que a cada ano eu anote detalhes necessários para que algumas metas sejam alcançadas nos 12 meses seguintes. Faço uma lista longa e variada- a deste ano conta com 83 itens — com muitas coisas fáceis de serem cumpridas para me dar incentivo ao longo do ano, quando risco os itens já preenchidos ou descartados. Um exemplo: trocar a lata de lixo.  Quero uma menor.  A que tenho está em perfeitas condições, mas não preciso de tanto espaço…  Há meses que penso em fazer isso, mas como não é essencial, acaba sendo uma compra postergada. Minha lista inclui desde conserto da porta do armário que está emperrando, até objetivos mais abstratos, como averiguar as melhores datas para uma futura (daqui a mais de um ano) aventura de subir as montanhas Atlas no Marrocos no dorso de um burrico.  Aos poucos, no curso do ano, vou me sentindo bem, porque objetivos que pareciam grandes ou numerosos, subdivididos em pequenas frações encontraram uma solução e tocam a vida para frente.  Sou como uma formiga: todo dia uma pequena decisão é tomada e ao final de certo tempo… Bem, ao final de certo tempo tenho uma montanha de resultados. Alguns positivos, outros nem tanto.  Sou o oposto de meu marido, que prefere atacar muitas coisas de uma só vez, e assim se preocupa menos ao longo do ano, naquele ramerrão enfadonho.  Ele juntaria alguns problemas na cozinha e um dia sairia para resolvê-los todos,de uma vez, quando também compraria a nova lata de lixo. Eu ficaria desnorteada com essa atitude. A ansiedade seria minha companheira noturna e me acordaria às 3 da manhã de qualquer noite, preocupada com os 7 a 15 itens necessários na cozinha e como dar conta deles.  Cada qual com sua maneira.  Talvez aí resida o equilíbrio do casamento, o que me afeta não chega a fazer cosquinhas no meu cara metade…

Lilla Cabot Perry , No estúdio,(EUA, 1848-1933), ost, 65 x 81cmNo estúdio, s/d

Lilla Cabot Perry (EUA, 1848-1933)

óleo sobre tela, 65 x 81cm

Tenho duas agendas. Uma de papel — que é a minha vida. Não posso perdê-la.  Ali marco TUDO. E tenho a agenda eletrônica para uso imediato. Datas que não podem ser esquecidas, por exemplo pagamento de condomínio. Quero todos os apitos a que tenho direito nesses quesitos de lembranças das obrigações… Porque não quero perder massa cinza com essas tarefas repetitivas. É na agenda de papel que a lista, às vezes muito maior em comprimento do que a própria agenda é colada, a essa tripa de papel, dobrada e redobrada junto à capa. Assim não a esqueço e vez por outra sou obrigada a ler o que escrevi próximo à virada do ano. É como me lembro dos meus objetivos gerais.

Minhas listas precisam ser mais detalhadas do que: ler mais; ver meus amigos com mais frequência, fazer exercício… Para mim, fazer uma lista assim é o mesmo que não fazer.  Digamos que eu queira ver meus amigos com mais frequência.  Esse é um tema muito geral, para ser colocado no papel.  Começo pensando nos amigos que gostaria de ver.  Mentalmente abro espaço no meu ano para eles.  Lembro que a Mariazinha dá aulas à noite e só pode se encontrar comigo aos sábados de manhã; que não vejo a Chiquinha faz tempos. E assim por diante. Seleciono algumas. Na lista geral um item será: telefonar para Chiquinha, Mariazinha, Joaninha, Juninha, Norminha e Belita. Eventualmente, acabo telefonando para cada uma e marcando um encontro. Mas não faço isso tudo junto.  Cada vez que leio a minha lista de objetivos sou lembrada das amigas, eventualmente será o momento propício para um telefonema. E, como mágica, no fim do ano, em geral terei feito contato com todas as pessoas da lista.

Quando recentemente falei disso para uma amiga, ela achou estranho, que eu estava “agendando contatos que deveriam ser  mais naturais”. Mas isso não tira a naturalidade do meu relacionamento com os meus amigos.  Tenho um amigo com quem me encontro todas as quintas-feiras. O fato de marcarmos o encontro e já anteciparmos o próximo não retira o prazer de estarmos juntos. Não é nem uma questão de todos sermos atarefados. Assim como meu marido tem outras prioridades, também os meus amigos as têm e é natural que os eventos diários nos levem a “esquecer” de telefonar, de marcar uma data para ver fulano. Não ter sido espontâneo não quer dizer que não vale, que é de uma “frieza de emoções incompatíveis com uma amizade”, como ouvi dessa amiga. São maneiras diferentes de encarar as suas necessidades. Delineando-as, com maior precisão encontro um jeito de honrá-las.  Mas cada qual tem sua maneira de levar a sério suas emoções.

E você?  Você faz listas de Ano Novo?