O renascimento dos “Pelicanos”

26 04 2014

Gwen Meyerson Woman In Pink Reading Original pink Painting by Gwen MeyersonMulher de cor de rosa lendo no parque

Gwen Meyerson (EUA, contemporânea)

www.gwenmeyerson.com

 

Não há dúvida que na Europa o livro de bolso foi elevado a um nível muito mais alto do que o atingido cá pelas nossas bandas.  Não só na variedade do conteúdo, no cuidado com as traduções e na excelência da encadernação os livros de bolso europeus derrubam as aspirações de qualquer selo brasileiro semelhante. Tanto na França quanto na Inglaterra os livros de bolso sempre foram das melhores fontes de conhecimento. Quando eu estudava aqui no Brasil na Alliance Française foram os livros de bolso, depois dos primeiros anos básicos do aprendizado da língua, que me levaram a conhecer os grandes nomes da literatura francesa, do teatro, da poesia e até mesmo de qualquer outro assunto através dos diversos selos existentes naquele país.  Muitos desses livros tenho até hoje comigo, fáceis que são de empacotar e repletos o suficiente de conteúdo para que eu não considere descartá-los.

Quando saí do Brasil para os Estados Unidos fui apresentada então às coleções de origem inglesa que já dominavam o mercado americano. A seleção de textos clássicos da Penguin trago comigo até hoje. Não sei quantos volumes tenho em casa desse selo.  São muitos, forram uma pequena parede com seus dorsos negros, são organizados por assunto e época.  O selo foi  responsável pela minha familiaridade com os clássicos gregos e romanos, com os textos dos pensadores medievais e renascentistas, enfim, por todo aquele conhecimento necessário para qualquer curso superior sério nas ciências humanas.  Se hoje meu conhecimento tem falhas — e muitas — não se deve certamente nem à falta de acesso aos textos originais, nem à precariedade dessas publicações, mas exclusivamente à minha inabilidade de digerir o conteúdo.

Pelican books

Além dos Penguins, tenho, em menor número é verdade, volumes do selo Pelican da mesma companhia. O selo ajuda qualquer um a destrinchar assuntos complexos de diversas áreas de conhecimento: psicologia, história, antropologia, sociologia e assim por diante.  Enquanto os Penguins são a fonte original, por exemplo, Platão, Juvenal, Catarina de Pisano; os Pelicans teriam grandes autores sobre esses originais.  A combinação dos dois selos daria e dá uma educação completa, autodidata, de qualidade.  O uso de textos originais é essencial na história da arte, por isso mesmo a minha tendência a ter mais Penguins do que Pelicans.  Mas confesso que eu não havia me dado conta de que o selo Pelican havia deixado de ser produzido desde os anos 80. Talvez os meus interesses tenham me levado a outras áreas.  Levamos muitas vidas através da vida e a cada etapa novas necessidades se impõem. As minhas últimas não incluíram os Pelicans.

Portanto, hoje quando li no jornal inglês The Guardian a respeito da volta do selo Pelican às livrarias fiquei simultaneamente surpresa e feliz. Surpresa de ter sido apresentada à sua morte e decadência, que eu não havia percebido e feliz por saber que ele volta às prateleiras.  Eu me surpreendi também com a fidelidade dos meus sentimentos.  Em marketing sou o exemplo ideal do consumidor satisfeito — objetivo a que todas as companhias aspiram — tenho confiança no produto, lealdade e ainda faço o meu boca a boca como nesta postagem. Mas acredito que as boas coisas devem ser difundidas e se possível permanecer no nosso dia a dia.  Certamente é uma notícia esperançosa a respeito da educação. Você só precisa saber inglês.  Mas hoje, quem não sabe?