A cigarra e a formiga, em versos por Bocage

6 07 2009

A Cigarra bate à porta da formiga, no inverno

 

A cigarra e a formiga

 

Bocage

 

Tendo a cigarra em cantigas

Folgado todo o Verão

Achou-se em penúria extrema

Na tormentosa estação.

 

Não lhe restando migalha

Que trincasse, a tagarela

Foi valer-se da formiga,

Que morava perto dela.

 

Rogou-lhe que lhe emprestasse,

Pois tinha riqueza e brilho,

Algum grão com que manter-se

Té voltar o aceso Estio.

 

«Amiga, diz a cigarra,

Prometo, à fé d’animal,

Pagar-vos antes d’Agosto

Os juros e o principal.»

 

A formiga nunca empresta,

Nunca dá, por isso junta.

«No Verão em que lidavas?»

À pedinte ela pergunta.

 

Responde a outra: «Eu cantava

Noite e dia, a toda a hora.»

«Oh! bravo!», torna a formiga.

– Cantavas? Pois dança agora!»

 

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bocage

Bocage

 

Manuel Maria de Barbosa l’Hedois du Bocage (Setúbal, 15 de Setembro de 1765 — Lisboa, 21 de Dezembro de 1805), Poeta português, possivelmente, o maior representante do arcadismo lusitano.  Árcade e pré-romântico, sonetista notável, um dos precursores da modernidade em seu país.


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