Natividade, 1980
Fúlvio Pennacchi (Itália/Brasil, 1905-1992)
Óleo sobre placa, 20 X 30 cm
Natividade, 1980
Fúlvio Pennacchi (Itália/Brasil, 1905-1992)
Óleo sobre placa, 20 X 30 cm
Jarro com frutas: maçãs e pêssegos, 1954
Arcangelo Ianelli (Brasil, 1922-2009)
óleo sobre tela, 70 x 60 cm
Virgílio Dias (Brasil, 1956)
óleo sobre tela, 70 x 100 cm
Rafael Falco (Argélia/Brasil, 1885-1967),
óleo sobre tela colada em placa, 30 x 20 cm
Coleção Fabiano Wolff
[com localização e dedicatória no verso ao pintor EmílioWolff]
Em 2011, neste blog, lancei um pergunta sobre o pintor brasileiro Rafael Falco, que poucos conhecem por nome, mas que muitos conhecem pelas obras históricas tal como Tiradentes ante o carrasco, de 1941, que de vez em quando aparece na televisão como pano de fundo de entrevistas políticas porque faz parte do acervo da Câmara dos Deputados em Brasília. Minha pergunta: por que conhecemos tão pouco a respeito de alguém cuja obra apareceu em verso de papel moeda, em ilustrações de livros de história? [Rafael Falco, um pintor brasileiro. Alguém tem mais informações?] Esse questionamento levou a um interessante diálogo, de alguns anos, que permanece vivo até hoje com familiares do pintor, colecionadores e outros estudiosos da pintura brasileira.
Por causa desse questionamento informações adicionais foram publicadas sobre a obra de Rafael Falco como ilustrador da revista Caça e Pesca, cujas fotos foram gentilmente cedidas por Paulo Araújo de Almeida, chegaram ao blog em 2012. [Pintor Rafael Falco, ilustrador da revista Caça e Pesca]
Rafael Falco (Argélia-Brasil, 1885-1967)
óleo sobre tela, 44 x 36cm
Coleção Fabiano Wolff
Hoje voltamos ao assunto através da coleção particular de Fabiano Wolff que, atenciosamente, cedeu fotografias de três obras de Rafael Falco: a paisagem retratando o balneário de Piçarras em Santa Catarina, a natureza morta com uva, garrafa e tacho de cobre e o retrato do pintor brasileiro Emílio Wolff, todos postados aqui.
Retrato do pintor Emílio Wolf, 1952
Rafael Falco (Argélia-Brasil, 1885-1967)
óleo sobre tela, 44x 36 cm
Coleção Fabiano Wolff
[com data e dedicatória do pintor ao amigo pintor]
A técnica de Rafael Falco parece bastante influenciada pelo impressionismo. Ainda que eu não tenha visto nenhuma dessas obras em pessoa, posso observar a pincelada solta, desprendida. Há realce da luz.
Se você também tem uma obra de Rafael Falco, e gostaria de contribuir para esse tema por favor nos contate. Tenha cuidado com a fotografia. Mande-me os detalhes das obras: técnica, tamanho, localização. E teremos grande prazer em continuar com o tema.
Armínio Pascual (Brasil, 1920-2006)
óleo sobre tela, 30 x 40 cm
Menotti del Picchia
Jantei outro dia com Vila-Lobos. Recordamos muita coisa da luta comum. Lembramos do chinelo que lhe ornava o pé esquerdo, quando dentro de uma impecável casaca. O grande Vila regia a orquestra do Municipal, numa das famosas noitadas da Semana de Arte Moderna de 1922.
— Eles pensaram que casaca de chinelo era parte da indumentária futurista. Acharam original. O que eu tinha era uma unha encravada…
Rimos. Lembramos da então tão jovem e tão linda Yvonne Daumerie no palco vestida de libélula, asas enristadas nas espáduas, chorando, apavorada, fugindo das vaias com que uma plateia ululante e desesperada coroara nosso heroísmo afrontando-a com a impertinência de um programa polêmico e agressivo feito, então, do que se consideravam “as loucuras de Mário de Andrade, Oswald, Ronald, Graça Aranha” e dos demais revolucionários.
— Vá dançar, Yvonne.
A graciosa bailarina dançou, uma dança clássica. Foi ovacionada. A ojeriza da platéia era conosco, não com Yvonne, Guiomar Novais, nem com o próprio Vila-Lobos. O formidável criador das Bacchianas bebia seu vinho e comia com apetite. As memórias vinham em fila: casa de D. Olívia, as viagens de concertos culturais, as primeiras concentrações corais. Os companheiros mortos e vivos: Mário, Oswald, Ronald, Brecheret…
— Você sabe que não foi a Semana de Arte Moderna que me lançou. Eu já era revolucionário na música muito antes.
Vila Lobos faz questão de fixar bem que ele não é resultante do movimento. Ele começou sozinho a sua revolução musical. Vila Lobos, porém, ignora, que nós todos, os autores da “Semana”, não fomos feitos por ela. Nós é que a fizemos. Anos antes já sonhávamos com a nossa revolução. Que eram o Moisés, o Juca Mulato senão rebeldias e discordâncias do ritmo mental dominante? Moisés é de 1917. Em 1921, com Osvaldo, dirigíamos a revista Papel e Tinta, onde exaltávamos a pioneira Malfatti, o rebelde criador de Paulicéia Desvairada. A “Semana” foi apenas uma data como 7 de setembro a eclosão de um movimento de independência nacional que vinha de longe. A “Semana” foi um encontro de valores e não um ponto de partida. Foi a oficialização da rebeldia criando uma data histórica. Vila Lobos pode ficar tranquilo; a “Semana” não disputará sua originalidade pioneira, apenas a registrará com o seu comparecimento tão pitoresco na ribalta do nosso Municipal, cabeleira agitada, chinelo no pé, marcadamente modernista.
Fomos, depois, ouvir, as últimas criações do mestre. Seu apartamento é um museu fotográfico dos maiores vultos contemporâneo, todos eles depondo, em dedicatórias consagradoras, sobre o gênio do maior compositor patrício.
— Isto que é, Vila?
Homenagens. Homenagens de governos, de corporações artísticas, de sociedades de concertos. Nem sei o que o Vila poderá fazer de tanta glória. O mundo inteiro é hoje sua plateia. Lá está a saudação de Stravinsky. Lá está o abraço de Stokowski. Lá está o agradecimento de Casals.
— Você lembra quando compôs o Trenzinho do caipira?
Passa pelos olhos de Vila Lobos uma rajada de melancolia. Há quantos anos? Mocidade, divina mocidade, única coisa boa da vida! Foi em São Paulo, dentro de um trem da Paulista, numa excursão artística pelo Interior na qual o compositor genial tocava violoncelo, D. Antonieta Rudge, o piano.
Nessa hora, porém, a vitrola sonorizava uma das Bacchianas que eu não conhecia, recentemente gravada nos Estados Unidos. Era o Vila Lobos romântico – romântico mas moderníssimo – o melhor Vila Lobos. E eu entrei em êxtase. Por vários minutos fiquei, pairando no Paraíso.
Em: Entardecer, Menotti del Picchia, São Paulo, MPM propaganda: 1978, p. 107.
Fazenda com figuras e animais, c. 1952
Georgina de Albuquerque (Brasil, 1885-1962)
óleo sobre tela, 39 x 47 cm
Olegário Mariano
É dolorosa a angélica atitude
Dos grandes bois lentos a trabalhar…
Sinto neles a força da saúde
A glória de viver para ajudar.
Da sua laboriosa juventude
Nada têm, pobres diabos a esperar…
Quem sabe? A vida pode ser que mude…
E eles se põem a olhar o campo, a olhar…
Tempo de safra. Brilham canaviais…
Gemem os carros e o rumor se irmana
À alma dos bois que geme muito mais.
Pacientemente seguem, dois a dois…
Há uma filosofia muito humana
No mugido e no olhar, tristes, dos bois…
Em: Toda uma vida de poesia: poesias completas (1911-1955) , Olegário Mariano, Rio de Janeiro, Editora José Olympio: 1957, 1º volume (1911-1931), p. 93
Avenida Paulista com Rua Pamplona, 2004
Eduardo Cambuí Figueiredo Jr (Brasil, contemporâneo)
óleo sobre tela, 150 x 60 cm
Odylo Costa Filho
Veste o terno mais velho, e vai-te embora.
Atravessa o quintal e pula o muro.
E entre morte do luar e a luz da aurora
parte na antemanhã, ainda no escuro.
Bebe as velhas fachadas, as cidades
que a água penetra, ameiga e acaricia;
e nelas o sinal de outras idades
gosto de vinho velho em novo dia.
Quando cessar a febre das viagens
e cansares de tudo — das paisagens,
de ignotas gentes e de virgens praias —
volta aos brejos natais. Arma tua rede
em pleno campo. E mata tua sede
de pureza nas grandes sapucaias.
Em: Boca da noite, Odylo Costa Filho, Rio de Janeiro, Salamandra: 1979, p. 58
NB: na opinião leiga da Peregrina um dos mais belos sonetos do século XX.