No jornal britânico The Independent do dia 18 deste mês, encontrei um artigo de Michael McCarthy, na seção de ciências, que achei bastante interessante. Tudo indica que os cérebros dos homens e das mulheres apresentam maiores diferenças do que até hoje se assumia.
Sou filha de um cientista e me lembro de meu pai recitando as diferenças entre os cérebros masculinos e femininos, em termos de peso e de tamanho. Tal critério foi, por muitos anos, por gerações mesmo, usado para justificar idéias sociais absurdas: porque não se precisava dar atenção à educação das mulheres (com um cérebro menor reteriam menos informação), justificando, em muito, a até então considerada superioridade masculina. Isto tornou este tópico de especial interesse para mim, que apesar de não ser cientista, sempre mantive os olhos e ouvidos bem abertos para o assunto.
O resultado da pesquisa mais recente sobre as diferenças dos cérebros entre homens e mulheres é que na verdade eles parecem ser dois tipos diferentes de cérebros, ambos pertencentes à raça humana. O que indica esta diferenciação são três pontos nunca antes percebidos em conjunto: 1) a “planta baixa”, ou seja, o mapeamento dos cérebros dos seres humanos é diferente de acordo com o sexo; 2) os circuitos que conectam partes de cada cérebro também apresentam diferenças essenciais; 3) os agentes químicos que transmitem as mensagens dentro do cérebro também são diferenciados. Estas três grandes diferenças justificam o que antes se considerava serem diferenças causadas por hormônios sexuais, pressões sociais e diversas peculiaridades anatômicas. Mas, anteriormente, não havia uma maneira de se saber por que, por exemplo, problemas de saúde mental são diferenciados de acordo com o sexo da pessoa, assim como por que certos remédios são mais eficazes nos homens do que nas mulheres?
As diferenças encontradas se concentram, até o momento, no lóbulo frontal, que é considerado o local onde decisões são tomadas e problemas resolvidos. Nas mulheres esta região é bem maior do que nos homens. As emoções, por tanto tempo associadas ao sexo feminino, realmente têm razão de ser, pois estão fomentadas, reconhecidas e localizadas no córtex límbico — que é também maior nas mulheres do que nos homens. Outra grande diferenciação aparece no hipocampo – o local responsável pela memória recente assim como navegação espacial.
Nos homens são maiores: o córtex parietal — responsável pela percepção do espaço; e a amídala — local determinante do comportamento emocional, sexual e social do homem. Assim tudo indica que há uma paridade entre diferença de tamanho e diferença de organização funcional.
Estas diferenças ajudariam a explicar alguns dos quebra-cabeças da ciência: 1) por que mulheres conseguem agüentar dores por longos períodos de tempo 2) por que mulheres e homens diferem nas reações ao ópio e seus derivados. Mulheres são mais sensíveis ao ópio com analgésico ao passo que homens são mais suscetíveis aos analgésicos baseados na morfina.
Como até hoje todos os remédios e todos os estudos sobre o cérebro humano têm sido baseados simplesmente no cérebro masculino há chance de que muitas novidades ainda estejam para serem descobertas e divulgadas, quando os cérebros femininos forem tão estudados quanto os masculinos.
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