Pé de vento…
Olegário Mariano
Ágil, violento,
De copa em copa,
Salta, galopa,
Relincha o vento.
Corcel alado,
Solta as crinas,
Desce às campinas
Desenfreado…
Transpõe barrancas,
Vales, penhascos,
Nas nuvens brancas
Imprime os cascos.
Da terra fura
Fundo as entranhas,
Na noite escura
Galga as montanhas,
Tolda os remansos,
Muda em cachoeiras
As cabeceiras
Dos rios mansos…
Arranca os galhos,
Pelos caminhos,
Deixa em frangalhos
Frondes e ninhos.
De salto em salto.
Revoluteia…
Lambe o planalto,
Dança na areia…
Na amaldiçoada
Força que o agita,
De cambulhada
Se precipita…
Pende o arvoredo
Num murmúrio:
“Meu Deus! Que medo!
Que horror! Que frio!”
Diz um arbusto:
“Por que me levas?
Tremo de susto
Dentro das trevas.”
Uma andorinha,
De asa quebrada:
“Morro sozinha,
Solta na estrada!”
Pobre tropeiro
Se desengana:
“Rolou do outeiro
Minha choupana!”
Vozes de magoas
Despedaçadas
Choram nas águas
E nas ramadas…
Uivam nas furnas
Feras aflitas,
Sob infinitas
Sombras noturnas…
E o vento nessa
Marcha selvagem,
Corta, atravessa,
Rasga a paisagem.
E segue o rumo
Do movimento,
Subindo a prumo
No firmamento,
Até que rola,
No último açoite,
Como uma bola
Dentro da noite…
Olegário Mariano Carneiro da Cunha, (PE1889 — RJ 1958). Poeta, político e diplomata brasileiro.
Obras:
Angelus (1911)
Sonetos (1921)
Evangelho da sombra e do silêncio (1913)
Água corrente, com uma carta prefácio de Olavo Bilac (1917)
Últimas cigarras (1920)
Castelos na areia (1922)
Cidade maravilhosa (1923)
Bataclan, crônicas em verso (1927)
Canto da minha terra (1931)
Destino (1931)
Poemas de amor e de saudade (1932)
Teatro (1932)
Antologia de tradutores (1932)
Poesias escolhidas (1932)
O amor na poesia brasileira (1933)
Vida Caixa de brinquedos, crônicas em verso (1933)
O enamorado da vida, com prefácio de Júlio Dantas (1937)
Abolição da escravatura e os homens do norte, conferência (1939)
Em louvor da língua portuguesa (1940)
A vida que já vivi, memórias (1945)
Quando vem baixando o crepúsculo (1945)
Cantigas de encurtar caminho (1949)
Tangará conta histórias, poesia infantil (1953)
Toda uma vida de poesia, 2 vols. (1957)
Como ainda me emociono com a sensibilidade na escolha de cada gravura para poemas tão singelos…
Parabens pelo lindo trabalho, É cultura demais pra uma pessoa só.
Mto bom mesmo. Vou explorar sempre que tiver um tempinho pra aprender
um pouco.
Cardoso, médico em Pindamonhangaba-SP.
Olá, Dr. Cardoso, muito obrigada por me dar sua reação e pelo elogio. è importante eu saber como as pessaos estão reagindo. Um grande abraço, Ladyce